O Fora do Roteiro é uma coluna de PJ Brandão, do HQ Sem Roteiro, no Fora do Plástico. Esse conteúdo tem também uma versão em vídeo, que recomendamos muito que você assista AQUI.
Em seu artigo An Art of Tensions, o pesquisador Charles Hatfield afirma que parte do poder de uma história em quadrinhos vem das tensões que essa linguagem opera. Hoje falaremos sobre uma dessas tensões: a tensão imagem singular versus imagem em sequência.
Em 2009, o site Comic Book Resources fez uma postagem memorável sobre os 70 quadros mais importantes da história da Marvel Comics. O foco era naqueles quadros que trazem momentos que mudaram a história de certos personagens e a história dos quadrinhos de super-heróis para sempre. O abandono do uniforme do Homem-Aranha e o resgate do Capitão América feito pelos Vingadores são alguns desses momentos.
Aí que tá a palavra-chave dessa tensão entre imagem singular e imagem em sequência: momento. Afinal, esses quadros separadamente possuem sentido. Eles trazem dentro de si um significado que a gente pode interpretar tranquilamente. Podemos colocá-los em uma blusa ou na capa de um caderno que eles vão fazer sentido por si só.
Mas nós sabemos que em uma história em quadrinhos, os quadros não são somente imagens singulares. Esses quadros são momentos. Partes estáticas de uma temporalidade, de uma ordem de acontecimentos. Eles possuem o poder de serem memoráveis exatamente por serem um momento de uma narrativa maior. Um ponto decisivo de uma trama que lemos em cada edição.
Hatfield usa o termo “breakdown”, algo como “quebra” ou “decupagem”, para falar sobre esse processo que o quadrinista faz ao “quebrar” a história em vários momentos. O autor também usa o termo “closure”, algo como “fechamento”, para abordar o lado do leitor, que vai pegar esses momentos espalhados pelas páginas da HQ e fechar mentalmente em uma só história.
É aí, nesse quebrar e juntar, que mora a tensão entre imagem singular e imagem em sequência em um quadrinho.