Purgatório

31 outubro 2022

De Chabouté
272 páginas
Pipoca & Nanquim | 2022
Tradução: Rafael Meire

Em mais uma obra de Chabouté no Brasil (esta já é a sexta), a editora Pipoca & Nanquim recua no tempo ao lançar um trabalho mais antigo do autor. Purgatório foi originalmente publicado entre 2003 e 2005, em três tomos, e traz um Chabouté menos maduro do que vimos em seus outros quadrinhos. Com um enredo que discute questões morais, burocracia e impotência, o quadrinista francês parece menos eficiente em nos impactar.

Benjamin Tartouche estava no auge de sua vida. Acabara de receber a casa de uma tia de herança, estava começando a trabalhar como freelancer, trilhando novos rumos. Até que, de repente, os ventos mudam completamente: a casa é completamente destruída em um incêndio e, sem qualquer respaldo da seguradora, ele passa a viver nas ruas. É impossível piorar? Nada disso, ele é atropelado por ninguém menos que o dono da seguradora que o desamparou. Assim, Benjamin Tartouche experimenta a vida após a morte.

O conceito de purgatório de Chabouté é interessante, embora não seja exatamente original. É notável que o autor deseja propor uma lição com essa história. Juntando referências, inclusive religiosas, Purgatório explora bem seu aspecto sobrenatural, em mais de um terço da HQ. No entanto, os personagens são sempre caricaturais e estereotipados, além de haver decisões de roteiro duvidosas, na nossa opinião.

A arte e a narrativa gráfica do francês são normalmente pontos altos. No entanto, há a repetição de algo que sempre nos incomodou em seus traços: os personagens com feições muito semelhantes. Desta vez a arte é colorida, com exceção de um recurso gráfico para evidenciar a condição “sobrenatural” do protagonista, ele e as outras almas vagantes são retratadas em preto e branco, uma ótima sacada.

Embora bastante aguardado, Purgatório é, na nossa visão, a obra menos impactante de Chabouté até aqui. Ela tem, sim, seus bons momentos, principalmente quando salienta a burocracia (neste e no outro plano) e brinca com a ideia cristã do purgatório. Mas, em geral, este é um quadrinho que mostra como Chabouté se aperfeiçoaria, até se tornar o nome por trás dos ótimos Um Pedaço de Madeira e Aço e Solitário.

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