De Marc-Antoine Mathieu
52 páginas
Comix Zone | 2023
Tradução: Fernando Paz
Pode-se ter uma certeza ao começar a leitura de qualquer volume de Prisioneiro dos Sonhos: você será desafiado. Marc-Antoine Mathieu usa os quadrinhos para dar um verdadeiro nó na mente do leitor, com as histórias de Julius Corentin Acquefacques. Desta vez através do espelho.
O Começo do Fim ou O Fim do Começo, a HQ (ou seriam as HQs?) pode ser lida de duas formas distintas, começando a partir da capa ou da contracapa. Duas histórias espelhadas, em que nosso protagonista se depara com os contrários. Julius acorda formalmente vestido, no lugar do pijama. Em vez de fazer a barba pela manhã, ele a “desfaz”, fazendo com que fique com um aspecto muito maior do que quando passou a gilete. Em seguida, recebe seu colega com um “até logo, saia!”. Tudo está ao contrário. Mas como resolver isso? É claro que a resposta não passa por qualquer método tradicional.
Esse espelhamento de histórias é instigante, fazendo com que o leitor mais uma vez participe ativamente da trama. Enquanto nos divertimos ao acompanhar o desespero do protagonista com a inversão de tudo, quase nos esquecemos da complexidade que uma história como essa carrega. Mesmo que nos empolgue menos do que A Origem ou O Processo, esta edição não deixa de ser muito bem pensada, condizente com o que vimos da série até aqui. Não espere uma conclusão, um ponto final claro, O Fim do Começo não tem mesmo começo ou fim. É possível ficar num looping de inícios e fins, quando as frentes das histórias se encontram.
O preto e branco intenso ganha uma função extra aqui, ao representar o negativo, como em uma foto. O recurso pode passar batido, mas é completamente funcional para a proposta. Destaque também para as imagens vertiginosas envolvendo o espelhamento e as corridas de trem alucinantes.
Apesar de não ser nosso volume favorito da série publicada pela Comix Zone, O Começo do Fim ainda é muito impressionante. Marc-Antoine Mathieu brinca com a materialidade do quadrinho e com a cabeça do leitor continuamente, nos fazendo ter uma leitura que pode até ser rápida, mas não passa despercebida.