De Marc-Antoine Mathieu
48 páginas
Comix Zone | 2022
Tradução: Fernando Paz
É sempre uma delícia descobrir quadrinhos que se propõem a ir além da história, que exploram as fronteiras da mídia. É justamente isso que Marc-Antoine Mathieu faz na série Prisioneiro dos Sonhos, que acaba de ter seu primeiro volume publicado no Brasil pela editora Comix Zone.
Ao longo de menos de 50 páginas, acompanhamos Julius Corentin Acquefacques, um funcionário do Ministério do Humor. Nosso protagonista vive em um quartinho claustrofóbico, que descobrimos ser o fosso de um elevador, empilhado ao lado de centenas de outras pessoas. Este é um mundo superpopuloso, com o trânsito engarrafado (de pedestres) e em que qualquer canto pode se tornar uma moradia. Porém, não é apenas esse universo que iremos explorar. São as páginas da própria HQ.
Acquefacques descobre que suas ações estão sendo escritas. Seu passado e futuro estão em quadros, balões, onomatopéias e sarjetas. Junto dele descobriremos que o material que temos em mãos é o mistério dessa trama… Ou sua própria origem. Enquanto nos divertimos com as anedotas de Marc-Antoine Mathieu, somos convidados a avançar, voltar, manusear o quadrinho, num exercício metalinguístico. Isso já garante uma leitura participativa muito gostosa, mesmo que rápida.
O preto e branco do autor é marcado pelo contraste e por muitas sombras. Há certa sensação de aprisionamento dos quadros da HQ, que refletem as próprias habitações e ruas abarrotadas de gente. Destaque para a inventividade das páginas, principalmente na segunda metade da HQ.
A Origem passa tão rápido que nos deixa completamente ávidos por sua sequência, O Processo, que será lançado ainda este mês. Quais serão os caminhos que percorreremos com Acquefacques em sua próxima história?