De Marc-Antoine Mathieu
48 páginas
Comix Zone | 2024
Tradução: Fernando Paz
O que Marc-Antoine Mathieu proporciona ao leitor na série Prisioneiro dos Sonhos vai além do entretenimento. O quadrinista francês brinca com a linguagem dos quadrinhos, e até com a materialidade do objeto livro, enquanto embarca em uma espiral de situações absurdas e reviravoltas. A Qu…, publicação mais recente da série no Brasil, continua a seguir muito bem a proposta, embora não tenha o mesmo impacto de seus antecessores.
Julius Corentin Acquefacques se vê em meio a mais uma trama kafkiana. Condenado por uma gaveta aberta (!), após a fiscalização de seu restrito apartamento, ele precisa vagar pelo “Nada”, embora não faça ideia do que encontrará. Tudo não passa de um plano muito maior que ele, em que Julius é apenas uma peça para desvendar o mistério da “Qu…”.
Mais uma vez, Mathieu desenvolve o universo particular onde o protagonista vive. Um lugar abarrotado de gente, onde o espaço para a individualidade é mínimo e onde o nonsense parece regra, a ponto de o leitor se sentir tão confuso quanto o próprio protagonista sobre os rumos da trama. A revelação final gera uma boa surpresa, mas nada comparado ao efeito surpreendente das três edições anteriores, sobretudo de O Processo, o auge da série.
Em A Qu…, o quadrinista mescla fotografia e ainda acrescenta uma mudança significativa neste volume, que está completamente relacionada ao andamento da história. O que é mais fantástico de Prisioneiro dos Sonhos é justamente isso, é impossível desassociar o visual e seus recursos do contexto da trama, ambos estão diretamente ligados.
Lançado pela Comix Zone, que começou a publicar a série em 2022, A Qu… é o suficiente para matar a saudade das aventuras caóticas de Julius Corentin Acquefacques. Não é preciso esperar uma obra prima, como já vimos antes pelas mãos de Mathie, mas ainda assim é uma ótima leitura.