De Orlandeli
96 páginas
Independente | 2019
Com Os Olhos de Barthô, Orlandeli presenteia o leitor mais uma vez com uma história fluida que, na verdade, é como um convite para a reflexão. Sem muitas delongas, somos apresentados a Barthô, que desde muito jovem sempre enxergou o mundo com um olhar de admiração e até mesmo de inocência. Na vida adulta, o protagonista segue com essa delicada característica, que para muitos é interpretada como uma dificuldade de “enxergar o mundo direito”. ⠀ ⠀
Após reencontrar seu amigo de infância, Nicola, Barthô é intimado a modificar esse seu olhar singelo. Para acompanhar o colega, o protagonista passa a integrar um grupo autointitulado A Liga do Bem. Com a formação dessa equipe de justiceiros, Orlandeli faz uma crítica afiada a esse tipo de prática. Em diversos momentos, observamos que o direcionamento do quadrinista está nos levando para muito além de uma reflexão pessoal, mas, sim, para uma visão social. Por que tantas pessoas acreditam que a justiça deve ser aplicada com as próprias mãos? O que é justiça para um grupo social é o mesmo do que é para outro? São muitos os questionamentos que nos atravessam em meio à leitura.
Assim como em suas obras anteriores, há um tom bastante filosófico na HQ, mas Orlandeli é cuidadoso para não torná-la panfletária. A arte também foge do convencional, com personagens caricatos, cores esmaecidas e formas exageradas. Destaque para a diagramação bastante fluida das páginas.
Os Olhos de Barthô é ágil e poderoso. Ao final, é inevitável ficar se indagando sobre os temas abordados na história. Mais uma vez Orlandeli acerta no ponto e faz um quadrinho sensível, mas também atento ao tempo em que estamos vivendo.