De Harvey Pekar e JT Waldman
176 páginas
Veneta | 2024
Tradução: Cris Siqueira
O renomado quadrinista Harvey Pekar aprendeu em casa, desde muito cedo, que era direito do povo judeu retornar a Israel, a terra prometida por Deus. Mas não demorou muito para que ele mesmo enxergasse com os próprios olhos que a nação judaica da teoria estava bem distante do cenário idealizado de seus pais. Ao longo de “Não é a Israel que Meus Pais Prometeram” o próprio Pekar e JT Waldman explicam a diáspora judaica, o sionismo e as raízes do conflito Israel-Palestina.
Com um quê metalinguístico, o quadrinho faz o leitor testemunhar as conversas de Pekar com Waldman para a elaboração deste projeto. É assim que o artista volta aos conceitos da sua infância e atravessa milênios para recontar a história do povo hebreu. Se há algo que a obra faz muito bem é sedimentar os contextos, para que entendamos o que está por trás do pensamento que deu origem à busca pela criação de um país judeu. Para, depois, questionar os custos que a fundação de Israel teve para os palestinos e porque isso ainda segue um tabu na comunidade judaica.
“Não é a Israel que Meus Pais Prometeram” pode ser bastante didático, em algumas passagens, e exageradamente detalhado em outras. Mas o resultado é um livro esclarecedor que transita bem entre o opinativo e o factual. Destaque para os painéis de Waldman, que variam as referências visuais conforme o tema e o período, para emular um tom mais documental às explicações de Pekar.
É interessante observar como essa é também uma HQ bastante pessoal. Publicada originalmente após a morte do quadrinista, em 2010, a obra acompanha um judeu um tanto desiludido e sua jornada pessoal diante do noticiário, das leituras, daquilo que transformou seu olhar.
Lançado no Brasil pela Veneta, “Não é a Israel que Meus Pais Prometeram” se encaixa perfeitamente no momento atual. O ciclo de violência relatado por Harvey Pekar está em ação neste exato momento. Por isso é tão urgente entender sua origem, o que o alimentou e segue alimentando, como vemos nas páginas da HQ.