Apoie o Fora do Plástico!
De Will Eisner
528 páginas
Devir | 2019
Tradução: Marquito Maia
Imortalizado com uma premiação que carrega seu nome, Will Eisner é uma das grandes referências de autores de quadrinhos ao longo das gerações. É delicioso o contato mais próximo com um dos mestres da arte sequencial que A Biblioteca Will Eisner, publicada pela editora Devir, proporciona. “Um Contrato com Deus” compila a trilogia ambientada na Avenida Dropsie, um canto de Nova York, no Bronx, marcado pelos cortiços. Eisner conta histórias da vida privada que, naqueles ambientes, se tornavam públicas.
Realidade e ficção se mesclam nas lembranças do quadrinista, que cresceu nesses ambientes barulhentos, marcado pela figura dos imigrantes (como os seus próprios pais eram). Nas histórias de “Um Contrato com Deus”, publicado originalmente em 1978, “A Força da Vida”, de 1988, e “Avenida Dropsie: a Vizinhança”, de 1995, o leitor é levado a imergir nesse universo de dramas humanos. Eisner é preciso ao convidar o leitor para fofocar e bisbilhotar a vida dos muitos moradores do Cortiço nº55. Assim, acompanhamos histórias sobre perdas, traições, trapaças, relacionamentos, falências, mudanças e diversos outros temas.
Apesar de formarem uma trilogia, as histórias apenas compartilham entre si a ambientação que, definitivamente, exerce o protagonismo aqui. Como são muitos personagens e alguns têm pouco tempo em cena, nem sempre o leitor se apega aos homens e mulheres das histórias que Eisner apresenta aqui (especialmente no caso de Avenida Dropsie: a Vizinhança). No entanto, o senso de comunidade existente nessas histórias, que atravessa as guerras, as crises e os anos, dá um tom sentimental, quase nostálgico após o fim da leitura. Em dois momentos notamos que os balões estavam com texto duplicado, o que atrapalhou um pouco o entendimento, mas não afeta a obra como um todo.
Eisner é, sem dúvidas, brilhante. Desde os pingos de chuva caindo sobre o chapéu do judeu Frimme Hersh, ou as expressões exageradas dos personagens, tudo possui uma fluidez belíssima. É difícil não ficar encantado ou comovido pelas histórias, tão humanas, tão vivas, apresentadas aqui.
