Palestina

10 outubro 2021

De Joe Sacco
328 páginas
Veneta | 2021
Tradução: Cris Siqueira

Quando Joe Sacco decidiu embarcar para o Oriente Médio, para cobrir o conflito entre palestinos e israelenses, o desejo de fazer jornalismo pulsava em suas veias. Mas, para além de uma cobertura inovadora sobre aquele momento político, o autor nos apresenta, em Palestina, o que viria a ser chamado do gênero “jornalismo em quadrinhos”. Sacco retratou os palestinos em suas dores e costumes, não somente em palavras ou fotografias, como é rotineiro no jornalismo, mas também com seus traços cartunescos em nanquim.

Essa é uma obra singular. Poderíamos destacar vários motivos como a sensação de realidade latente que ela nos transmite ou a importância de trazer um olhar sobre a Palestina, tão pouco abordado pela mídia, até então. Mas o que mais nos encantou nesse gibi é a forma como é perceptível que o jornalismo em quadrinhos estava sendo construído ali.

À medida que os capítulos se desdobram, observamos os recursos que Sacco utiliza para transmitir para a nona arte sua apuração diária, nos dois meses que esteve na Palestina. Os recursos vão se aperfeiçoando e o jornalismo e a linguagem em quadrinhos se tornam uma unidade, ao final da narrativa. O início é mais denso, mais carregado de texto, com longos recordatórios. Ao decorrer das páginas, Sacco parece se tornar mais confortável com o formato, adicionando quadros mais versáteis e mais elementos na arte, o que reduz a quantidade de texto.

Talvez, o que mais distancie o leitor da ideia de factualidade jornalística de Palestina seja o traço cartunesco de Joe Sacco. Mas isso não nos incomodou. Muito pelo contrário, trouxe a identidade do autor para a reportagem, e sabemos que todo jornalista deixa um pouco de si em seu produto final.

Republicado pela Veneta, Palestina é essencial para entender o contexto do qual a obra trata, assim como Maus ou Persépolis. É impossível terminar a leitura sem refletir sobre o conflito ali abordado, sobre as famílias separadas, os direitos renegados ou as vidas interrompidas. Mesmo após mais de 28 anos, está é uma obra que segue muito atual. Não é à toa que Joe Sacco é considerado o pai do Jornalismo em Quadrinhos.

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