De Chabouté
196 páginas
Pipoca & Nanquim | 2023
Tradução: Fernando Paz
Museu é Chabouté entregando aquilo que faz de melhor: observar o mundo ao seu redor, com um olhar que vai além do banal. Publicado pela Pipoca & Nanquim, a obra é ambientada no Museu d’Orsay, em Paris, e leva o leitor não apenas às galerias do local, mas também a conhecer seus visitantes e principalmente suas obras de arte, que deixam seus postos durante a noite.
O quadrinista francês usa sua habilidade com as cenas mudas para mostrar mais do que dizer. Estamos o tempo todo diante das movimentações do museu, que evidenciam, sequencialmente, as figuras distintas que por ali passam. A reação dos visitantes às obras de arte é retratada de forma expressiva, especialmente quando Chabouté nos coloca na perspectiva do próprio quadro, como se aquelas pessoas olhassem diretamente para o leitor. Também fazemos parte da rotina do local após o apagar das luzes.
Não é como se essas pinturas e esculturas apenas ganhassem vida à noite. Ao longo do dia, elas estão imóveis, cientes de suas funções. Mas quando o museu está vazio, elas podem, enfim, relaxar. Passear pelos corredores (para os que têm pernas); fofocar sobre os acontecimentos do dia, como sempre fazem os bustos caricatos de Daumier; olhar o mundo lá fora, através do imenso relógio do museu, ou até uma pessoa em particular; desvendar os mistérios dos banheiros, como faz Héracles, quando deixa seu arco. As interações entre as obras de arte são divertidas, autênticas e ainda sobra espaço para serem poéticas.
O preto e branco faz o encontro entre luz e sombras ser marcante e as reproduções das obras expostas no Museu d’Orsay são feitas com cuidado. Elas não perdem a essência, mas ganham a assinatura do desenhista francês.
Como havia feito em Um Pedaço de Madeira e Aço, Chabouté nos transforma em observadores da vida alheia. Dos encontros, das impressões, das fagulhas diferentes que podem ser produzidas quando uma pessoa põe os olhos em uma obra de arte. A Arte é banal? As reações repetidas a um determinado quadro provam que não. Para além disso, Chabouté nos convida a reimaginar essa tal arte, quando ninguém está olhando.