Trilogia Shakespeariana

4 setembro 2023

De Gianni De Luca
144 páginas
Figura | 2023
Tradução: Paulo Guanaes

Shakespeare é um dos escritores mais adaptados da história, inclusive nos quadrinhos. Mas o que Gianni De Luca faz, em sua Trilogia Shakespeariana, vai além da adaptação, estamos diante da quebra de algumas convenções dos quadrinhos. Personagens que parecem deslizar nas páginas, páginas essas que perdem as marcas dos quadros, sem qualquer prejuízo para a narrativa. É impressionante o que vemos nas três histórias desse álbum.

De setembro de 1975 a dezembro de 1976, o semanário Il Giornalino publicaria A Tempestade, Hamlet e Romeu e Julieta, em quadrinhos. De Luca não esteve sozinho, as adaptações são assinadas por Sigma, pseudônimo de Raoul Traverso. Por serem histórias mundialmente conhecidas há séculos, não há surpresas… a não ser quando se trata da forma.

A Tempestade, protagonizado por um duque, aspirante a mago, que vive anos exilado em uma ilha com sua filha, já apresenta o que seria chamado de “o efeito De Luca”. Quando o quadrinista usa a repetição dos personagens na página, para dar a impressão de movimento, passagem do tempo e mudança de espaço. O efeito foi incorporado de vez e nunca parou de ser usado. Dentro das próprias obras da Trilogia Shakespeariana, o próprio De Luca iria aperfeiçoando suas habilidades e tornando a composição das páginas mais fluida, com linhas finas e traços limpos.

Se em A Tempestade elementos do cenário faziam a função dos quadros, em Hamlet – a icônica história do príncipe da Dinamarca, que quer vingança contra o tio, responsável pela morte de seu pai – De Luca passa a usar a página inteira e o efeito se torna muito preciso. Isso também acontece em Romeu e Julieta – a tragédia mais famosa de todos os tempos, talvez – só que agora com páginas duplas. O quadrinho não é pensado em quadros, mas em um espaço mais amplo, em que essas estruturas são dispensáveis, porque a movimentação dos personagens e os arranjos dos cenários nos conduzem.

Publicada pela Figura, a obra traz boas adaptações, mas prova como uma narrativa gráfica inventiva pode tornar tudo mais interessante. O cuidado na composição da obra é notável e nos faz alongar o tempo, observando os detalhes dessas páginas quase cinquentenárias.

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