Perramus

20 janeiro 2022

De Juan Sasturain e Alberto Breccia
496 páginas
Figura | 2021
Tradução: Ernani Ssó

Um homem ganha a chance de esquecer de seu passado e de sua identidade, o que o exime da culpa de abandonar os seus companheiros de luta contra a ditadura. É assim que Perramus ganha esse nome. Fruto de seu tempo, mas com marcas atemporais, o quadrinho de Juan Sasturain e Alberto Breccia nos embala em uma história comicamente surreal. Como a própria sinopse prevê, este é “um ajuste de contas ficcional com o período sombrio das ditaduras militares e a volta de uma democracia sempre sob suspeita”.

Sasturain e Breccia entrelaçam na jornada de seu protagonista sem memória alegorias para a situação política da Argentina. E a isso se somam aventuras rocambolescas, que nos isentam de procurar a lógica em algumas situações.

Dividida em quatro livros, todos compilados na edição lançada pela Figura editora, a obra oscila o tom ao longo das histórias. Perramus e seus companheiros enfrentam os cruéis Marechais do regime ditatorial; buscam pelo “espírito” da ficcional cidade de Santa Maria (Buenos Aires); se envolvem acidentalmente em uma batalha cheia de reviravoltas em uma ilha e, por fim, partem em uma saga ao redor do globo em busca dos dentes perdidos do crânio de Carlos Gardel (sim, o ícone do tango).

Carregada de um humor cortante, que satiriza a figura dos militares, essa fábula latinoamericana toma emprestado o nome e as feições de personalidades como Jorge Luis Borges (que é uma figura fundamental para a trama), Fidel Castro, Frank Sinatra e Gabriel García Márquez.

O surrealismo é coroado pela arte mais abstrata de Breccia. É notável como ele utiliza o claro e o escuro, como explora as formas e as expressões. Algumas viradas de página e cortes podem parecer um pouco abruptos, inicialmente, mas logo nos acostumamos com a dinâmica proposta ali.

Perramus carrega consigo as marcas de seu tempo, em múltiplas referências. E talvez, a cada leitura que se faça, seja possível perceber novas nuances nas situações retratadas na obra. É como se a realidade dura de uma Argentina marcada pela opressão, pelos desaparecidos e demais marcas da ditadura só fossem suportáveis com um pouco de surrealismo.

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