De Tillie Walden
400 páginas
Veneta | 2019
Tradução: Gabriela Franco
Spinning é uma leitura que conversa particularmente com as meninas que viveram períodos turbulentos na adolescência, mas está enganado quem pensa que esse é um gibi voltado unicamente ao público feminino. A jovem autora Tillie Walden se entrega nesse relato sobre o tempo em que se dedicou à patinação no gelo. Desde a infância à proximidade da vida adulta, acompanhamos a quadrinista nesse relato autobiográfico que oscila entre o singelo e o denso.
Tillie não poupa o leitor de momentos que mais parecem monólogos. Não esconde seus pensamentos obscuros, seus dramas e muito menos seus sentimentos. Em alguns momentos sentimos que aquele era um desabafo, como se estivéssemos vasculhando um diário velho da autora, no qual todas aquelas memórias eram guardadas.
Por ser uma história ao estilo slice of life, a HQ pode não empolgar alguns leitores. No entanto, é nessa sensação de vida real, ou melhor, de retomada da adolescência que a HQ ganha sua melhor face. Há aqui um pouco de Alison Bechdel e seu Fun Home, afinal, em ambos temos jovens meninas revisando seus passados, descobrindo sua sexualidade, revoltando-se ou contendo-se.
A arte de Tillie é uma graça, com destaque para a leveza dos movimentos quando retrata cenas na pista de patinação e o uso pontual do amarelo, em contraste com o tom de roxo que marca a HQ.
Spinning é um belo acerto da editora Veneta. Mesmo que muito jovem, Tillie Walden já possui diversas obras publicadas e agora que já conferimos Spinning (que a rendeu um Eisner) estamos curiosos pelos demais trabalhos da autora.