De Aimée de Jongh
352 páginas
SumaHQ | 2024
Tradução: Érico Assis
Clássico absoluto, Senhor das Moscas tem no conflito entre a ordem e o caos o seu mote. Aimée de Jongh transpõe para os quadrinhos tudo o que a obra de William Golding originalmente propõe e intensifica algumas situações, com a qualidade de sua arte.
Um grupo de garotos está isolado em uma ilha. Sem adultos, os meninos precisam criar sua própria sociedade para sobreviver. Ralph, o líder escolhido, estabelece regras, se preocupa com os mais novos e tenta afastá-los do medo de que um terrível monstro habita a ilha. Em oposição está Jack Merridew, o caçador do grupo, que se torna mais violento à medida que o tempo passa. A partir da convivência entre essas crianças o roteiro leva a reflexões sobre como a natureza humana pode ser destrutiva, diante de situações extremas. O dilema entre a moralidade de Ralph e a brutalidade de Jack toma conta das páginas à medida que a trama avança.
Aimée de Jongh evidencia a fragilidade dos meninos em seu traço. Nas páginas, o tempo todo somos lembrados de que eles são crianças, mesmo nas situações mais intensas da trama. A quadrinista usa a ambientação a seu favor, seja para criar mistério ou fortalecer a dualidade entre os garotos, sempre tendo em vista a fidelidade ao original. Algumas sequências se tornam especialmente impactantes na HQ, como a clássica “aparição” do Senhor das Moscas.
A fluidez da adaptação também é notável. É impossível parar de ler e a sequência de eventos é bem organizada, mesmo que a autora tenha feito escolhas das cenas que iriam para o quadrinho. Uma responsabilidade e tanto.
Recém-lançado mundialmente, Senhor das Moscas de Aimée de Jongh é perturbador, principalmente por não nos deixar esquecer sequer um segundo que essa é uma história protagonizada por meninos. Publicado pela SumaHQ, o quadrinho faz jus à força de seu original em todos os aspectos.