De Aimée de Jongh
168 páginas
Conrad | 2023
Tradução: Andressa Lelli
Honey Buzzard: O Retorno da Ave de Rapina soa exatamente como um prelúdio daquilo que veríamos de Aimée de Jongh em seus trabalhos futuros. Nesta HQ, lançada pela Conrad, nos deparamos com uma trama emocionalmente intensa, com temas bem definidos, e uma arte que indica o cuidado da autora com o visual de suas obras.
Simon está prestes a fechar a livraria que um dia foi de seu pai, e que agora ele gerencia ao lado da esposa. Além do momento difícil nos negócios, o protagonista vive um trauma, no presente, que reacende lembranças da sua infância. E como se não bastasse esse turbilhão de emoções, uma estudante misteriosa aparece na vida de Simon e se torna sua confidente.
O roteiro destaca questões como estresse pós-traumático, culpa e bullying na infância, enquanto intercala passado e presente na narrativa. No entanto, a história se torna um tanto óbvia. Não é difícil prever como a trama será concluída, ainda que todo o desenvolvimento seja bem executado, quase protocolar. Tudo isso é natural, tendo em vista que este é o primeiro trabalho solo da quadrinista, mas essa previsibilidade acaba nos afastando da obra.
Na arte, Aimée de Jongh abusa dos contrastes entre preto e branco, e dá um peso extra para os olhos dos personagens, que parecem fundos, desiludidos. O ritmo é bem desenvolvido e a autora ainda acentua bem os silêncios. Algo que não deixa de incomodar, por outro lado, é a estatura dos personagens, que parecem achatados, quase infantilizados, em alguns planos.
Uma história sobre recomeços, Honey Buzzard: O Retorno da Ave de Rapina não foge de certos clichês, mas mostra como Aimée de Jongh consegue entrelaçar bem várias camadas de uma mesma história, em uma leitura agradável.