A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos

2 junho 2022

De Zidrou e Aimée De Jongh
148 páginas
Pipoca & Nanquim | 2022
Tradução: Fernando Paz

É notável a sensibilidade do roteirista belga Zidrou, principalmente pelos temas que escolhe abordar em suas obras. A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos é mais uma história delicada em suas mãos, desta vez com arte da holandesa Aimée De Jongh. Em duas narrações simultâneas em primeira pessoa, somos apresentados a Ulisses e Mediterrânea. Ele, um viúvo aposentado prematuramente aos 59 anos, após um corte de funcionários na empresa de mudanças em que trabalhou a vida toda. Ela, uma ex-modelo de 61 anos, que é confrontada com seu próprio envelhecimento após a morte da mãe.

O encontro entre os protagonistas era esperado desde as primeiras páginas. Mas, mesmo assim, quando acontece é igualmente encantador. À medida que os dois vão se conhecendo, vemos a história se encaminhar para um romance, inclusive com os clichês do gênero. Tudo soa poético pelo tom adotado por Zidrou e também pela arte sincera de Aimée De Jongh, que parece até mais efetiva do que o roteirista nesse quesito. As linhas que marcam as rugas nos corpos de Ulisses e Mediterrânea são delineadas, quase ressaltadas. Estamos vendo um casal de idosos se apaixonar e em momento nenhum nos esquecemos de suas idades. Há uma quebra de tabu ao mostrar esse casal envelhecido se descobrindo, se amando. Juntos eles são vibrantes, enérgicos, cheios de vida.

A graphic novel é precisa em abordar seu tema principal: não deveríamos nos invalidar com a passagem do tempo. Nem nossos corpos, nem nossos sentimentos. Mesmo com uma mensagem bem-sucedida, a história toma um rumo imprevisível, que provavelmente não agradará todos os leitores. Afinal, é uma decisão que rompe a veia realista que a trama mantinha. Também sentimos que o relacionamento de Ulisses e Mediterrânea poderia ter sido mais aprofundado, em seu desenvolvimento.

A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos aborda uma temática contemporânea e necessária, em um roteiro que soa esperançoso como um conto de fadas. É uma história especialmente delicada, coroada pela arte de De Jongh, mas com uma conclusão que não nos pareceu unânime.

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