De Nick Drnaso
208 páginas
Veneta | 2020
Tradução: Érico Assis
Sabrina, de Nick Drnaso, é uma obra extremamente interessante por dialogar muito sobre a nossa realidade, fazendo uma crítica social bem afiada, através de temas como fake news, disseminação de conteúdos impróprios pela internet, teorias da conspiração e espetacularização da violência.
Com uma trama que gira em torno dos desdobramentos do desaparecimento da personagem que dá nome à obra, Drnaso cria uma graphic novel inteligente que fisga rapidamente o leitor. Ao longo das páginas, criamos inúmeras hipóteses e também refletimos sobre a realidade mostrada ali, que está mais próxima do que imaginamos. Para alcançar este resultado, o autor investe no roteiro angustiante, moderno e uma diagramação que dá ritmo a leitura. A estratégia de Drnaso é simples, eficaz e funciona muito bem na primeira metade, ao ponto em que, no decorrer da leitura, cravamos que essa HQ certamente estaria entre as melhores do ano.
No entanto, ao passar da primeira metade, sentimos que o autor se alonga demais na história, deixando a experiência de leitura um pouco cansativa. Entendemos que essa foi uma escolha opcional e que esta é uma obra muito mais focada na jornada do que no destino, mas acreditamos que essa extensão do roteiro acaba enfraquecendo o peso inicial da obra. Quanto ao traço de Drnaso, certamente está longe de ser o dos mais bonitos, mas não chega a ser um problema, achamos que cumpre bem pelo estilo da HQ.
Além disso, Sabrina conta um final pretensioso que quebra todas as expectativas do leitor. Mesmo não tendo funcionado para nós, certamente o final aberto vai agradar alguns leitores. Embora tenhamos esses apontamentos, não podemos deixar de destacar como essa obra fala tão bem com a nossa geração. Mas o gosto que fica é que poderia ser, para a gente, ainda mais memorável.