Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias

6 janeiro 2020

De Jefferson Costa
224 páginas
Pipoca & Nanquim | 2019

Jefferson Costa entrega o melhor de si em Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias, publicado pela editora Pipoca & Nanquim como parte de seu selo de originais. Em um relato que resgata toda sua ancestralidade, o quadrinista se arrisca ao assinar pela primeira vez tanto roteiro como a arte de uma HQ. E acerta. Na Bahia e em Pernambuco, o autor rememora os caminhos de seus pais e avós percorrendo a paisagem árida do sertão.

Apesar de estreante no roteiro, o artista ousou ao trazer uma história conduzida de forma não linear. Jefferson entrecorta temporalidades e sobrepõe situações passadas em locais diferentes. Inicialmente, isso pode gerar um desconforto para o leitor. Mas é justamente esse esforço para compreender tempo e espaço que o faz participar da leitura de uma maneira experimental, ativa. O resultado é ser inevitavelmente arrebatado pela obra.

Os relatos mesclam fantasia e realidade e trazem episódios da vida de pessoas que conviveram com os mais diversos desafios, mas também com a alegria da vivência simples no interior do nordeste. O quadrinista traz para primeiro plano um Brasil completamente diferente dos grandes centros urbanos. A seca, as crenças e heranças dos antepassados, a dor das perdas são costurados como uma colcha de retalhos.

A experiência de leitura é intensificada pelo belíssimo trabalho de Jefferson com as palavras. Cada diálogo é marcado pela oralidade, ou seja, há a reprodução do modo como as pessoas daquela região falam. O linguajar dá o tom perfeito da imersão, coroada pela paleta quente e vibrante usada para identificar núcleos e separar tempos.

Na arte, Jefferson é mais uma vez impressionante. Em seus trabalhos anteriores, como os ótimos Jeremias – Pele, ao lado de Rafael Calça, e La Dansarina, em parceria com Lilo Parra, o artista já demonstrava um estilo caricato marcante, e ele parece ficar cada vez melhor.

Em cada página de Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias, é nítido o cuidado de Jefferson Costa com cada detalhe da narrativa. E isso só demonstra o quanto essa história é importante para ele. Uma obra de memórias, que celebra não só as origens do próprio autor, mas também os costumes e a cultura das regiões retratadas.

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