Rabiscos de um Pracinha

28 fevereiro 2024

De Kash Fyre
46 páginas
Independente | 2023

Rabiscos de um Pracinha não é um quadrinho. Não da maneira mais formal de se pensar um quadrinho. A experiência de leitura é ampliada no projeto de Kash Fyre, que torna o próprio objeto-quadrinho parte da imersão na história. O resultado é uma experiência totalmente distinta da que seria provocada por uma HQ tradicional de guerra.

Com formato de bloco de anotações, Rabiscos de um Pracinha nos coloca em contato com um objeto perdido, de um soldado cujo nome nunca é revelado. Podemos não saber quem ele é, mas nas páginas seguintes, temos contato com seu diário, composto de pequenos textos e desenhos. Percebemos que é um artista, que nunca viu sentido na carnificina da guerra, mas se tornou um dos expedicionários da FEB, na campanha brasileira na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

A desumanização, tema frequente em narrativas que retratam conflitos como esse, está presente nos pensamentos e nos relatos do soldado desconhecido. A trajetória dos pracinhas nos combates é revelada, em meio a reflexões e ilustrações dos ambientes e dos companheiros de pelotão. Nada é muito descritivo e, para isso, Kash conta com o conhecimento prévio de um tema tão representado em diferentes mídias, a Segunda Guerra. É como se parte da história fosse preenchida pelo leitor, que precisa imaginar muito mais do que o habitual em um quadrinho.

Nas páginas não há quadros ou balões de fala. No lugar, Kash acrescenta à mão respingos de barro, lágrimas e sangue. A experiência de leitura passa também por esses elementos externos, que nos conectam ao texto poético do soldado sem nome e permitem que a sensação de realismo seja ainda maior.

Rabiscos de um Pracinha é um projeto completamente ficcional, fruto de pesquisa histórica e da criatividade de Kash Fyre. No entanto, enquanto líamos, Rabiscos de um Pracinha era um diário ilustrado de um brasileiro que viveu as batalhas na Itália, porque soava mesmo como um. Esta é uma experiência de leitura fantástica, que mexe com nossos sentidos e com as convenções dos quadrinhos.

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