O Fim da Noite

14 janeiro 2023

De Rafael Calça e Diox
72 páginas
DarkSide Books | 2022

Rafael Calça e Diox tecem em O Fim da Noite as histórias de três gerações de mulheres negras, em que vemos refletidas vivências de familiares dos autores. Inicialmente, conhecemos Aurora, que ainda menina precisa trabalhar de forma forçada para a família que a “adotou”, após a morte de seus pais. Desde cedo, sua vida foi de luta, batalhando por sua sobrevivência e depois a da filha, Ruth. Com os esforços da mãe, Ruth pôde estudar e se tornar professora de História. É na terceira geração, com Vitória, que um silenciamento imposto durante anos é rompido por completo, na figura da adolescente que não tem medo de expor suas opiniões, em uma batalha frontal contra o racismo.

A HQ se dá a partir da passagem dos anos. Inicia-se em 1940, com a morte dos pais de Aurora e se encerra em 2018, com Vitória já adulta. São 78 anos em pouco mais de 65 páginas, o que faz com que o ritmo da HQ pareça até acelerado. O tempo que passa reflete as mudanças nas formas de luta, desde uma avó que precisou se ausentar de si para criar a família, passando pela filha que encontrou no ensino uma maneira de fazer micro-mudanças, até a neta que se posiciona com firmeza desde muito cedo. O que Rafael Calça deixa claro é que mesmo que distintas, essas mulheres sempre precisaram estar em posição de enfrentamento para que pudessem sobreviver e avançar.

As cenas em cada década são bastante diretas e o leitor precisa estar atento para absorver tudo. Dito isso, a sensação é de que poderíamos passar mais tempo com Aurora, Ruth e Vitória. Ver mais detalhes de suas vidas, nos alongar em cada tempo retratado.

Na arte, Diox está sempre atento às expressões, com seus traços finos. O ilustrador consegue que os olhares sejam fundamentais, deixando sobrancelhas, rugas e outras marcas do envelhecimento conversarem com o leitor, tanto quanto os balões de fala.

Publicado pela DarkSide Books, após vencer o prêmio Machado da editora, O Fim da Noite é uma história que escancara como o racismo estrutural opera. Ao mesmo tempo Rafael e Diox escrevem uma história que expõe uma inquietude, uma necessidade de mudança, operando nos ensinamentos que passam de mãe para filha, de avó para neta.

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