De Lillo Parra e Gilmar Machado
136 páginas
Independente | 2019
Uma fantasia à brasileira, ambientada em uma cidadezinha do interior paulista, O Cramulhão e o Desencarnado, parceria de Lillo Parra e Gilmar Machado, é uma ótima experiência de leitura. Na trama, o velho Alcebíades fez, há bons anos, um pacto com o diabo. Porém, após sua morte, quando o cramulhão preso na garrafa finalmente se liberta, a alma do esperto homem desaparece. O capeta da garrafa percorre, enfurecido, a pequena cidade em busca de Alcebíades. Agora, cabe à neta do velho, Maria Izabel, a missão de proteger a eternidade do avô.
Além de trazer uma aura deliciosa dos causos e lendas do interior, Lillo Parra abusa da linguagem caipira para deixar sua HQ com uma ambientação ainda mais fidedigna. Embora as reviravoltas no roteiro sejam bons pontos de virada, é na relação entre os personagens que o quadrinho tem sua melhor face. Destaque para a ótima dinâmica entre os primos Izabel e Dilão e seu tio. No vai e vem entre presente e passado, a história nos presenteia com um belo relato da união familiar, que foge dos clichês e é muito bem-humorado.
O roteiro cativante de Lillo é intensificado pelas ilustrações incomuns de Gilmar Machado. Seus traços peculiares se encaixam muito bem com o ambiente da trama, em um ótimo casamento, ainda que “estranho”. O Cramulhão e o Desencarnado é uma história sobre heranças e costumes. É também uma trama sobre a brasilidade, traduzida de maneiras diferentes nos personagens da HQ. Mais do que tudo, esse é um quadrinho para os apreciadores de histórias que fogem do comum, que ousam ir além.