De Marcel Bartholo e Lillo Parra
112 páginas
Balão Editorial | 2022
Com jeito de causo, João Verdura e o Diabo apresenta uma história interiorana, que celebra a tradição oral, desde a sua premissa. Com roteiro de Lillo Parra e arte de Marcel Bartholo, a obra é protagonizada por um jovem padre que estabelece uma relação de confiança com um verdureiro cego, o João Verdura que dá nome à obra. E onde está o Diabo? É isso que vemos desenrolar ao longo da HQ.
Durante as confissões do verdureiro, Padre Carlos descobre um mistério que envolve a Igreja local. Enquanto isso, as beatas da cidadezinha passam o dia fazendo maledicências sobre a relação de amizade que está surgindo entre os dois.
Apesar da boa premissa, que nos envolveu na trama desde o primeiro momento, João Verdura e o Diabo perde potência, à medida que a trama avança. Isso porque algumas pontas soltas fazem o roteiro parecer desconexo, com lacunas. E, por mais que elas sejam propositais, para que o leitor complete por si mesmo trechos da história, o resultado é confuso. Há também alguns pontos previsíveis, que poderiam ser mais envolventes caso o tom de suspense fosse melhor explorado. Ao mesmo tempo, a trama nos imerge perfeitamente no clima interiorano, seja nos cenários, no sotaque caipira ou nos comportamentos dos personagens, mesmo que caiam propositalmente no clichê, como a figura tradicional das beatas fofoqueiras.
O tom de suspense e até uma pitada de terror sobrenatural ficam, principalmente, a cargo da arte de Marcel Bartholo. Cheias de personalidade, as ilustrações são essenciais para transmitir ao leitor o tom da obra e até para destacar a multiplicidade de gêneros que a história engloba. Destaque também para a bela capa, que nos convida imediatamente para a leitura.
Humor, mistério e suspense estão entrelaçados em João Verdura e o Diabo. Publicada pela Balão Editorial, a HQ pode não entregar a profundidade ou o desenvolvimento que gostaríamos, mas é um passaporte para visitar um interior cheio de tradições, crendices e causos.