De Pierre-Henry Gomont
192 páginas
Nemo | 2023
Tradução: Renata Silveira
Malaterre gira em torno das relações complexas e tóxicas entre Gabriel e seus filhos, Mathilde, Simon e Martin. O ótimo contador de histórias Pierre-Henry Gomont narra a vida repleta de excessos de um homem obcecado por uma propriedade familiar, ilustrando perfeitamente quando negócios e família se embaraçam, causando prejuízos a todos à sua volta.
A HQ já começa pelo fim, com a morte do protagonista, Gabriel Lesaffre. Uma figura narcisista, manipuladora e mentirosa, que parece amar apenas a si mesmo. Com belas promessas, Gabriel toma de sua ex-mulher a guarda de Mathilde e Simon, seus dois filhos mais velhos, para viver com ele em uma propriedade na selva da África equatorial, que um dia pertenceu aos seus antepassados e, agora, ele comprou de volta. O personagem tem um sonho: reconquistar a grandeza dos Lesaffre de outrora e repassar o patrimônio para seus descendentes.
Incapaz de cuidar dos filhos por conta de seus vícios e por ter que lidar com tantos problemas de seus negócios fadados ao fracasso, Gabriel deixa os dois jovens à própria sorte, em um apartamento na cidade. Praticamente abandonados e desfrutando da liberdade, Mathilde e Simon vão descobrir a África e vão amadurecer, em um lugar completamente diferente daquele que imaginavam.
O autor recorre às suas memórias para trazer essa história, de uma família desmoronando por causa dos sonhos de um pai caótico. Por mais detestável que seja, Gabriel tem um carisma magnético, que cativa não apenas os personagens da HQ, mas também o leitor.
Com seu traço muito expressivo, Pierre-Henry Gomont prende a atenção do leitor. É tudo muito belo: os cenários exuberantes na floresta africana, as expressões faciais, a habilidade no contraste de cores quentes e frias e, principalmente, os detalhes “vivos” nos personagem gesticulando e pensando.
Mais uma vez pela Nemo, que em 2022 publicou “Afirma Pereira”, Pierre-Henry Gomont é um quadrinista completo. Malaterre é a típica leitura que vai te encantar por sua complexidade emocional, por mostrar personagens falíveis e reais, assim como nós.