De Rodolfo Santullo e Dante Ginevra
88 páginas
Comix Zone | 2022
Tradução: Jana Bianchi
Com uma narrativa deliciosa, que revela aos poucos ao leitor aquilo que virá, Malandros, de Rodolfo Santullo e Dante Ginevra, aborda os bastidores do maior atentado terrorista da Argentina. Em 16 de junho de 1955, a Praça de Maio foi bombardeada pelas forças armadas, em um ataque que destinava assassinar o presidente Juan Domingo Perón, e iniciar um golpe de estado. Mas, por razões ainda desconhecidas, Perón não estava lá. A proposta dos autores é justamente uma explicação sobre esse fato e, para isso, usam a ficção como aliada.
Ao longo de capítulos, originalmente serializados na revista Fierro, a trama vai ganhando contornos que caminham do micro para o macro. Começam num bairro, na vida privada, até chegar ao golpe em si. Como Perón teria sido alertado do atentado?
Uma série de personagens e narradores tomam sua parte na história: as máfias italiana e russa, o dono de um bordel, um homem indiferente a tudo que não sejam seus próprios interesses, um músico que se apaixona por uma prostituta, um alferes que daria a vida por Perón e um ladrão igualmente peronista. Inicialmente, o leitor pode ter até a impressão, pelo cunho episódico dos capítulos iniciais, que a trama não terá liga. Nada disso, tudo se encaixa, à medida que passamos as páginas.
Malandros é bem ritmado, com diálogos afiados e uma arte que serve muito bem à proposta, alternando entre um lado mais realista e outro mais caricato. Suas pouco mais de 86 páginas são suficientes para contar essa história, devido ao encadeamento perfeito da sucessão de eventos.
Lançada pela editora Comix Zone, a HQ é um belo exemplo de um casamento nada conservador entre história e ficção. Em Malandros, os autores usam o fato como ponto de partida para criar uma ótima leitura.