De Keum Suk Gendry-Kim
488 páginas
Pipoca & Nanquim | 2020
Tradução: Jae Hyung Woo
Grama, de Keum Suk Gendry-Kim, é o resultado de uma história contada de forma cuidadosa, mas que em momento algum deixa de ser cortante. A trajetória da protagonista, Ok-sun Lee, é cruel desde o seu nascimento, com uma infância marcada pela pobreza e pela fome. Vendida antes de se tornar adolescente, ela foi forçada a ser escrava sexual em uma das muitas casas de conforto para soldados do império japonês durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial. Um tema que ainda não estávamos familiarizados e que, sem dúvidas, nos tocou muito.
A autora vai, ao longo das páginas nos apresentando suas conversas com Lee, agora uma vovó. A senhorinha traz em suas palavras, ao rememorar o passado, a dor de não ter vivido uma vida em que pôde ter escolhas ou domínio do próprio destino, do próprio corpo. Os passos dessa história tão triste são angustiantes para o leitor, mesmo que Keum Suk Gendry-Kim faça um trabalho extremamente respeitoso. Aqui não há enfoque na violência dos atos aos quais a protagonista era submetida. No entanto, a própria trama é densa e pesada na sua essência.
Além de fazer um belo trabalho ao costurar a trama, a quadrinista trabalha bem com os desenhos. Mesmo que seja mais caricata, a arte casa bem com o tom da história. Há algumas passagens em que ela é essencial para tornar o roteiro ainda mais poderoso e criar silêncios fundamentais. Outro destaque é para a edição da editora Pipoca & Nanquim, sempre com cuidado especial.
Na figura de sua protagonista, Grama nos faz pensar nas centenas de milhares de mulheres que foram escravizadas sexualmente, que foram sacrificadas. A indenização segue sendo uma questão entre Coreia e Japão. Mas o que nos alenta nessa história toda é ver as imagens da resiliente vovó Ok-sun Lee, do alto de seus 93 anos. Uma sobrevivente.