O Fora do Roteiro é uma coluna de PJ Brandão, do HQ Sem Roteiro, no Fora do Plástico. Esse conteúdo tem também uma versão em vídeo, que recomendamos muito que você assista AQUI.
Antes de falar desse efeito, a gente precisa falar rapidinho sobre o que fazem os quadrinhos serem, de fato, quadrinhos. E a resposta está basicamente na ideia de que um quadrinho é um imagem, depois de outra imagem, depois de outra imagem, lado a lado, sobre uma determinada superfície.
Alguns autores gostam de separar essas imagens por linhas, quadros, requadros. Outros nem isso, apenas colocam aglomerados de imagens interagindo no espaço da página. Independente dessas escolhas, uma coisa é certa: quadrinhos possuem justaposição de imagens. Ou seja, suas imagens interagem uma ao lado da outra.
E quando um quadrinista decide emular a passagem de tempo do cinema ou do teatro em uma página estática de um quadrinho? Bem, foi isso que passou pela cabeça do autor que deu nome ao Efeito de Luca, o apresentador brasileiro Bruno De Luca… Não, brincadeira!
Em 1975, o italiano Gianni De Luca tinha a difícil tarefa de adaptar Hamlet para um quadrinho. No texto Gianni De Luca & Hamlet: Thinking Outside The Box, o pesquisador Paul Gravett afirma que o desafio do quadrinista italiano era condensar cerca de 30 mil palavras da peça de Shakespeare em apenas 48 páginas de quadrinhos.
A resposta de De Luca para esse problema foi esculpir a dinamicidade do movimento de seus personagens, repetindo-os várias vezes em uma página, criando uma ideia de passagem de tempo e de espaço parecida com o sentimento de um ator ou de uma atriz andando por um palco de teatro. As 30 mil palavras se tornaram uma espécie de balé estático, uma dança congelada, enfim, composições que demonstram uma relação íntima entre o corpo e o espaço pelo qual esse corpo passeia.
De lá pra cá muita gente já se utilizou no Efeito De Luca, especialmente em HQs de super-heróis, publicações que têm na coreografia das lutas e no movimento dos corpos umalguns de seus principais pontos fortes. Elektra, Batman, Homem-Aranha, Mulher Maravilha, Kate Bishop, e as capas de um dos recentes arcos do Asa Noturna são exemplos desse efeito no mainstream.
Parte considerável do poder dos quadrinhos vem dessa sua capacidade de enganar seus leitores. Ou melhor, não enganar, mas fazê-los acreditar e ver o que de fato nem existe.