De Miguel Vila
176 páginas
Veneta | 2024
Tradução: Michele Vartuli
Fiordilatte é um quadrinho propositalmente “extravagante” que, apesar da sexualidade evidente, passa longe de ser uma HQ erótica tradicional. Miguel Vila conta uma história criativa que, mesmo com seus elementos extremos, consegue ser sincera, reflexiva e até cômica.
O quadrinho é centrado em um triângulo amoroso. Marco é um jovem cuja namorada Stella, garota popular e descolada, o sustenta. Embora ela seja perdidamente apaixonada por ele, Marco não se sente sexualmente atraído pela parceira, e até começa a se questionar se não há algo de errado consigo. Porém, tudo muda ao conhecer Ludovica, a mãe da criança da qual Stella é babá, uma mulher um pouco mais velha, distante dos padrões estéticos, que despertará impulsos desconhecidos no jovem. A partir daí, Vila desenvolve sua trama explorando desejos da sexualidade humana, sentimentos e, por que não, obsessões.
Estamos diante de uma história que pode chocar pela abordagem despudorada. Vila não se importa em provocar o leitor com um roteiro que foge do convencional para incitar reflexões sobre as relações contemporâneas, sem que nada pareça gratuito. O desenvolvimento e a complexidade dos personagens são reforçados nos ótimos diálogos e na linguagem corporal de cada um deles.
Os layouts das páginas lembram HQs de Chris Ware, com suas vinhetas pequenas e composições que definem o ritmo da página, tornando a leitura uma experiência muito única. É interessante observar também como o quadrinista expõe para o leitor o olhar de Marco, o que é essencial para o funcionamento da história.
Lançado pela Veneta, Fiordilatte é controverso, cheio de camadas e certamente vai desagradar uma grande quantidade de leitores. É um tipo de quadrinho que não se importa com o desconforto, a ideia aqui é te provocar para te surpreender.