De Diox
184 páginas
Veneta | 2023
Centrado em uma família negra, pouco antes e durante a pandemia de Covid-19, Estopim se propõe a debater questões sociais importantes, a partir da progressão dos acontecimentos da HQ. Diox busca um olhar que constata e relembra aquilo que o Brasil viveu e aquilo que segue vivendo, dia após dia.
Dani é a primeira da família a ingressar na universidade. O fato de decidir cursar Ciências Sociais evidencia sua personalidade. Ela é politizada, consciente do espaço que busca ocupar enquanto mulher preta e não tem medo de expor suas opiniões. Mesmo que isso signifique entrar em conflito com a mãe, evangélica fervorosa, e que acredita que o joelho no chão é a melhor solução para qualquer problema, independente de qual seja. Dona Lúcia tem mais dois filhos, Jonatan e Tiago. O primeiro diz trabalhar em dois empregos, mas parece não ter qualquer compromisso. Enquanto o segundo, mais novo, está enfrentando pela primeira vez o peso do racismo, após uma abordagem policial. E ainda viria a pandemia…
Diox constrói bem o contexto e dá espaço para que os personagens tenham suas personalidades definidas. À medida que a trama segue e a pandemia passa a ser o problema central, as coisas mudam de rumo, mas o tom do roteiro não. Estopim propõe muitos temas sociais, mas poucos se tornam efetivamente aprofundados. Não que fosse preciso esmiuçar tudo, mas essa dispersão faz, por exemplo, com que alguns diálogos pareçam artificiais, pois servem apenas para expor determinada questão. Já um exemplo de arco que tem bom desenvolvimento, e que passa por toda obra, é o conflito entre Dani e a mãe, por conta da religião.
Na arte, Diox entrega um visual bonito, rostos expressivos e caracterizações que colabora para a construção dos personagens. Cabelos, roupas e cenários, tudo importa na arte.
Publicado pela Veneta, Estopim tem seus problemas no roteiro, que tornam a obra menos potente do que poderia ser. Mas eles não tiram a relevância do que Diox faz aqui. O quadrinista não só relembra parte daquilo que vivemos, mas também pauta questões raciais, fanatismo religioso e como o distanciamento social foi diferente para ricos e pobres.