Eightball: Daniel Clowes e seu marco para os quadrinhos underground

18 setembro 2022
Por Fora do Plástico

A Eightball foi uma antologia em quadrinhos de Daniel Clowes, publicada de forma serializada de 1989 a 2004. Neste período, Clowes produziu 23 edições, experimentando abordagens diferentes nos gêneros, estilos de desenho e duração. Em uma comparação rápida (e simplória), a Eightball é como a revista Mad, porém é um projeto de um artista só.

Com uma narrativa peculiar, Clowes apresentou uma visão satírica incisiva da cultura norte-americana, combinando temas sérios com passagens de humor. Como o Comics Alliance apontou, cada edição da Eightall é como ver o id, ego e superego de Clowes espalhados na página.

Eightball #1, lançada pela Fantagraphics, em 1993

 

O curioso é que o autor conta que, após uma primeira experiência com os quadrinhos, ao lançar a HQ Lloyd Llewellyn pela Fantagraphics, a Eightball foi pensada como uma despedida. “Eu pensei que faria alguns quadrinhos, o melhor que eu pudesse, para depois ir para a faculdade de odontologia ou qualquer outra coisa. E  depois, quando eu tivesse a idade que tenho agora, eu olharia para trás e diria: ‘Eu fiz esses quadrinhos muito bons nos anos 80, antes de me tornar um batedor de carteiras'”, disse, em entrevista ao portal Nerdist. Assim, nasceu um dos quadrinhos alternativos mais importantes de todos os tempos, um marco na nona arte.

Foto: Ian Allen, para a California Sunday Magazine

 

Afinal, quem é Daniel Clowes?

Daniel Clowes é um dos mais consagrados autores do cenário underground de quadrinhos norte-americanos. Aclamadas pela crítica, suas obras têm como características traços marcantes, discursos sobre a vida moderna e questões existenciais. Três de suas HQs já foram adaptadas para o cinema: Wilson (2017), Ghost World (2001) e Uma Escola de Arte Muito Louca (2006). Os quadrinhos e os filmes de Clowes receberam diferentes prêmios, incluindo um Pen Award de Obra de Destaque em Literatura Gráfica, mais de uma dúzia de Prêmios Harvey e Eisner e uma indicação ao Oscar.

 

HQs que saíram na Eightball e já foram lançadas no Brasil

 

E David Boring? Não faz parte da Eightball?

Faz, sim. Porém, é considerado um “outro momento” da revista. A partir de 1998, a Eightball passou por uma transformação, deixando de ser antologia e tornando-se uma revista dedicada a histórias únicas, em novo formato. Sendo assim, David Boring saiu de forma seriada, nas edições #19 a #21.

A mudança ficou ainda mais radical nos dois últimos volumes (#22 e #23), em que as edições foram publicados em cores. Logo, as edições #19-23, publicadas entre 1998 a 2004, fazem parte desse “segundo momento” da revista. E, por isso, não estão compiladas na edição comemorativa da Fantagraphics. Elas não deixam de ser consideradas histórias da Eightball, mesmo que Daniel Clowes repense, hoje, a decisão de lançá-las sob a tutela da revista. “[David Boring] Realmente deveria ter sido apenas uma graphic novel independente. Os próximos dois livros que fiz também foram chamados Eightball foram Ice Haven e The Death Ray. Ambos eram realmente apenas graphic novels com o nome “Eightball” na capa, o que não era nada além de confuso para pessoas que não estavam mergulhadas nesse mundo dos quadrinhos, da serialização e tudo isso”, disse o autor ao Nerdist.

 

 

E Paciência e Wilson? Como ficam?

Diferente das HQs mencionadas acima, tanto Paciência quanto Wilson foram lançadas já como graphic novels, fora da Eightball. São histórias longas, que foram publicadas como livros independentes, não de forma seriada. É importante dizer que, ao longo dos anos, até por conta da relevância da revista, várias histórias da Eightball ganharam edições únicas.

 


As coleções da Fantagraphics

 

Para comemorar o 25º aniversário da Eightball, a editora norte-americana Fantagraphics lançou uma edição fac-símile de 2 volumes, que inclui as primeiras 18 edições, a The Complete Eightball.

As edições reproduzem as capas originais, os anúncios falsos que Clowes colocava entre as histórias e a coluna de cartas no final de cada edição. A obra, como o próprio autor diz, “é como se você comprasse todas as edições quando elas foram lançadas e as encadernasse”. A editora norte-americana também está lançando a série em formato de bolso.

Além disso, há também a 20th Century Eightball, uma coletânea de grandes momentos de histórias publicadas originalmente na revista. “Ugly Girls”, “Art School Confidential” e “The Happy Fisherman” e vários outros contos aparecem nesta HQ. Foi lançada originalmente em 2002, pela Fantagraphics.

No Brasil, as HQs lançadas na Eightball foram publicadas em sua versão em volume único, como graphic novel. Ou seja, não houve nenhuma reprodução do formato da revista, aos moldes do que a Fantagraphics fez, por aqui.

 

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