É Solitário no Centro da Terra

1 junho 2024

De Zoe Thorogood
192 páginas
Conrad | 2024
Tradução: Andressa Lelli

É Solitário no Centro da Terra não é uma leitura fácil. Zoe Thorogood expõe, sem se poupar, a realidade da depressão que a acompanha desde que tinha 14 anos. A abordagem adotada pela autora adiciona um alívio cômico aqui e ali, mas ainda assim é densa e trata de questões muito sensíveis. A própria quadrinista, em determinado ponto, ironiza como os leitores tendem a se conectar com obras dramáticas, sobretudo quando autobiográficas. Porém, neste caso, o que mais chama a atenção não é exatamente o “drama de Zoe”, e sim a forma como ela decidiu usar a linguagem dos quadrinhos para contá-lo. Esse é o diferencial.

Além de autobiográfico, esse é um quadrinho metalinguístico. Testemunhamos, nas páginas da HQ, a sua produção. Zoe constrói uma linha narrativa inconstante, como fluxos de pensamento que fluem em ondas e transitam pelo tempo. O resultado disso é a sensação de estarmos mesmo na mente da artista. O que é também evidente pela maneira fragmentada como ela se representa, com cerca de quatro “personas” diferentes, que se alternam conforme o propósito, o que a autora quer apresentar sobre si. Um exemplo claro disso é a escolha de desenhar ou não o seu rosto de forma realista.

É Solitário no Centro da Terra registra um período de seis meses, enquanto também faz incursões à infância e adolescência da quadrinista, quando é necessário dar mais contexto ao leitor. A sinceridade transborda das páginas através da criatividade de Zoe Thorogood. A arte transita entre estilos, brinca com cores e a ausência delas, assim como letreiramento que se transforma de acordo com a necessidade. Toda a construção visual é importante, ou melhor, essencial para que a obra tivesse todo esse impacto.

Não é pelo drama que É Solitário no Centro da Terra nos conquistou. A HQ publicada pela Conrad é um exemplo muito claro da força poderosa dos quadrinhos para contar histórias que não conseguiriam ter o mesmo efeito caso estivessem em outra mídia. Zoe encontra um caminho muito pessoal, evidentemente, para usar a arte como maneira de se expressar. É por isso que tudo soa autêntico.

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