De Chip Zdarsky
124 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Dandara Palankof
Domínio Público aborda uma temática importante, que desperta imediata empatia dos leitores de quadrinhos: o direito de criação de quadrinistas, historicamente negligenciados. Chip Zdarsky mistura elementos dos casos de Jack Kirby, Bill Finger e Steve Ditko para criar a história ficcional de Syd Dallas, um artista que não recebeu os créditos pela criação do Domínio, super-herói que começou nas HQs e deu origem a derivados muito rentáveis.
Injustiçado, Dallas nunca teve a propriedade intelectual de sua obra e sempre foi ofuscado pelo roteirista Jerry Jasper, muito mais midiático. Porém uma reviravolta pode mudar tudo, quando uma descoberta de um arquivo do passado faz com que o artista decida contestar a corporação Singular sobre os seus direitos de criador. Mesmo reticente, no primeiro momento, Syd Dallas é incentivado por sua família a lutar por aquilo que deveria sempre ter sido seu.
Chip Zdarsky faz uma crítica contundente ao modo como a indústria opera. No entanto, a impressão que fica é que a história se beneficiaria de mais acidez. Todo o encadeamento de situações é composto por conveniências, o que não deixa nenhuma ponta solta, mas torna tudo um tanto artificial. Os personagens tendem ao maniqueísmo, em que todos os opositores à família Dallas são cruéis e vilanescos, enquanto Syd chega a parecer ingênuo.
Há boas passagens centradas nas relações familiares, críticas bem colocadas à frieza das corporações e somos sensibilizados pela causa do quadrinista, mas algumas decisões do roteiro parecem forçadas, até mesmo para encaixar no tom de humor do autor. A arte de Zdarsky é convencional e mesmo que tenha um aspecto estático, vamos nos acostumando à medida que a HQ avança.
Publicado pela Pipoca & Nanquim, o primeiro volume de Domínio Público pode ser apenas a introdução de uma história que ainda irá crescer e se tornar mais convincente. Por enquanto, a sensação final é de um ótimo tema abordado de forma aquém das expectativas.