De Keum Suk Gendry-Kim
244 páginas
Pipoca & Nanquim | 2023
Tradução: Yun Jung Im
Em Cães, a coreana Keum Suk Gendry-Kim expõe sua relação com seus cães, desde que seu companheiro, Hun, adotou Cenourinha, um filhote de welsh corgi pembroke. De tutora inicialmente reticente, a quadrinista vai se revelando a cada capítulo uma apaixonada por esses animais, como se poderia esperar.
O quadrinho possui uma estrutura linear, mas pouco preocupada com a temporalidade. O que evidencia que a autora quer mesmo fazer uma reunião de relatos das suas experiências ao lado de Cenourinha, Batata e Chocolate. O intuito é definitivamente mostrar o quão companheiros são os cães e como a balança afetiva também tem o peso das responsabilidades que ser um bom tutor exige.
Um dos pontos mais interessantes de Cães e uma característica comum às HQs da autora é perceber de que forma essa temática se encaixa na cultura coreana. Bosintang e gaesoju, dois pratos considerados parte da tradição culinária do país, são feitos com carne de cachorros. Keum Suk Gendry-Kim nos confronta com essa realidade e nos faz indagar os limites daquilo que pode ser considerado cultural.
Na arte, a autora foca nos olhares e movimentos caninos, documentando seus comportamentos, como faz no próprio texto, o que acaba trazendo menos diversidade às imagens e cenários. Como já acontecia em Grama e A Espera, há cenas que são mais detalhadas, enquanto outras páginas usam de um traço mais cartunesco, sempre em preto e branco.
Menos potente, até mesmo em termos narrativos, que seus trabalhos anteriores (também lançados pela Pipoca & Nanquim), Cães se ancora na universalidade do assunto. Apesar de parecer um pouco lenta e até soar repetitiva em alguns capítulos, a obra é capaz de transmitir uma mensagem clara. É possível se sentir comovido, se encantar pela relação humano-animal e perceber que essa foi uma forma íntima de Keum Suk Gendry-Kim homenagear seus cãezinhos.