De Ana Luiza Koehler
112 páginas
Veneta | 2020
Na década de 1920, Porto Alegre era uma cidade em transformação. O passado colonial precisa ser deixado de lado, apagado das ruas da capital gaúcha. E é justamente esse processo de modernização da cidade que Ana Luiza Koehler aborda em Beco do Rosário. Praticamente uma ode à história de Porto Alegre, a HQ acompanha Vitória, uma jovem negra, que sonha em ser jornalista e desde criança mostra potencial para isso.
Moradora do Beco do Rosário, Vitória sente na pele as transformações que a capital gaúcha passa no início dos anos 20. Afinal, o espaço onde vivia é extinto para dar lugar a uma larga avenida que iria dar cara de cidade grande a Porto Alegre. Na infância, a protagonista convivia com os irmãos Frederica e Teodoro, quando sua mãe ia dar aulas na imponente casa da família Waldoff. É justamente este o outro núcleo da trama que, em muitos momentos, tem um tom de novela das seis.
Beco do Rosário é recheado de informações históricas e de detalhes que reforçam o intenso processo de pesquisa de Koehler. No entanto, a história tem um ritmo lento, sem momentos de clímax, mesmo que haja, sim, um pouco de tensão. É como se os núcleos e personagens não tivessem uma liga para realmente dar mais emoção, mais vida à história. Mesmo que cause pouco impacto,o roteiro é habilidoso em inserir questões sociais e reforçar o racismo que envolvia a destruição dos becos e a forma como seus moradores (pessoas principalmente da comunidade negra) eram vistos.
Para fechar, não poderíamos deixar de elogiar a belíssima arte em aquarela de Ana Luiza Koehler. Há todo um cuidado com a ambientação e muita pesquisa para retratar a cidade de acordo com o período histórico. Mesmo que o roteiro não tenha nos cativado tanto quanto esperávamos, Beco do Rosário é um bom exemplo de quadrinho histórico. A autora consegue explorar detalhes importantes sobre a cidade onde nasceu e trazer luz a questões que são pouco abordadas, como o custo dessa “europeização” das cidades.