De Cecilia Marins, Barbara Teisseire e Giulia Tartarotti
74 páginas
Independente | 2022
Afastando estereótipos e com uma abordagem sem tabus, a reportagem em quadrinhos Amarras é uma fonte muito completa sobre a prática do BDSM. Cecilia Marins, Barbara Teisseire e Giulia Tartarotti desenvolvem uma apuração que destrincha suas origens, regras, práticas e que, sobretudo, desestigmatiza a prática ao trazer o leitor para perto de quem faz parte da comunidade BDSM.
Bondage, dominação e submissão, masoquismo: o BDSM não se resume apenas a isso. Também está envolvida a relação entre dominador e submisso e, por mais que o leitor venha logo pensando em 50 Tons de Cinza ou associações do gênero, a HQ vai muito além disso. O conteúdo se desenvolve a partir de entrevistas, mas também por meio de pesquisas sobre o tema, que remontam ao Marquês de Sade e ao Kama Sutra.
A narrativa alterna entre essas entrevistas e interlúdios, para contextualizar todo o conteúdo, inclusive no cenário brasileiro. É possível perceber um cuidado especial em tornar o tema de fácil compreensão e para um público bem amplo. A divisão em capítulos, que otimiza a construção da narrativa em partes temáticas, funciona muito bem, mas poderia ser mais evidente, com mais precisão entre o começo e o fim de cada capítulo.
A arte de Cecilia Marins consegue destacar ainda mais o tema proposto. É claro que composições com cenas que remetem às práticas BDSM são constantes, mas a obra utiliza outras referências visuais, equilibrando o volume de texto nos quadros. E é nas cenas em que as informações da reportagem estão mais na arte do que no texto, que o quadrinho tem seus melhores momentos.
Amarras provoca no leitor o interesse de conhecer mais sobre o BDSM. É algo inevitável, quando se termina essa reportagem em quadrinhos. Assim como havia sido com Parque das Luzes, o tema é abordado com cuidado notável. Temos aqui um jornalismo atual, respeitoso e que carrega consigo um desejo de quebrar tabus.