De Liv Strömquist
144 páginas
Quadrinhos na Cia. | 2018
Tradução: Kristin Lie Garrubo
Liv Strömquist faz em “A Origem do Mundo: Uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado” um quadrinho perfeito para quem não lê quadrinhos. Com uma narrativa bem humorada, a autora sueca caminha pela história para explicar por que o órgão sexual feminino foi motivo de tabu (e segue sendo) para a sociedade. O humor ácido é apenas um traço para aliviar o peso de uma obra que revela o quanto o patriarcado silenciou as mulheres e seus corpos.
Nada da “tese” de Strömquist é baseado em achismo. A autora coloca em notas (ao lado dos quadros da HQ) as referências bibliográficas de seus argumentos. É possível notar que houve pesquisa e dedicação em formar todo um fio narrativo conectando diferentes autores. A maneira como a quadrinista torna o acadêmico divertido é louvável. O tempo todo, a autora estabelece um diálogo didático e cômico com o leitor.
É como se, em um dia, em uma mesa de bar, Strömquist decidisse nos explicar informalmente (mas com argumentos precisos) por que muitas mulheres têm dificuldade de reconhecer o próprio corpo, por que a menstruação é considerada algo “sujo”, ou os efeitos de ter uma ciência extremamente masculina, com homens teorizando (muitas vezes sem qualquer metodologia) sobre o corpo das mulheres.
A arte de Liv Strömquist pode ser o ponto que faça alguns leitores torcerem o nariz para a obra. Os traços rudimentares da autora podem não ser tão convidativos, mas são bem funcionais para o que a obra se propõe. Há algumas páginas completamente abarrotadas de texto, o que também pode tornar a HQ um pouco mais lenta em certos pontos.
Publicado pela Quadrinhos na Cia., “A Origem do Mundo” é um ótimo presente. É provocativo, divertido e ácido, sem abrir mão da precisão acadêmica. Nosso primeiro contato com o trabalho de Liv Strömquist foi empolgante e iremos, sem dúvidas, conferir mais obras da artista.