De Shintaro Kago
284 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Drik Sada
É preciso embarcar na loucura proposta por Shintaro Kago para desfrutar de seu A Princesa do Castelo Sem Fim, mas não seria diferente dado aquilo que o mangaká já apresentou em obras anteriores. O lendário Oda Nobunaga, figura central da história do Japão no século XVI, é emboscado por um de seus vassalos mais próximos, Akechi Mitsuhide. Nesse momento, a realidade se divide em duas: em uma das versões Nobunaga é morto e na outra ele sobrevive e derrota o traidor. Esses universos distintos são representados na forma de castelos que mais parecem arranha-céus, cuja dinâmica é regida por regras, no mínimo, curiosas.
O leitor acompanha, muitas vezes na mesma página, essas realidades coexistirem em suas semelhanças e divergências. Tudo se torna cada vez mais bizarro quando a Princesa Nou, viúva de Nobunaga em um dos mundos, decide começar uma rebelião contra o homem que traiu seu marido. Esse é um prato cheio para que Kago crie situações e cenas grotescas, que mesclam também erotismo aos conceitos do multiverso que desenvolveu.
O mangaká usa recursos dos quadrinhos para criar as simetrias entre mundos e brincar com elas também, em um dos pontos altos do mangá. Há ainda debates sociais e questões históricas do Japão diluídas em meio a pessoas duplicadas e castelos que se fundem e crescem vertiginosamente. Além da história principal, que dá nome ao mangá, a edição reúne o conto As Doze Irmãs do Castelo Sem Fim, menos impactante ou inventiva, embora ambientada nesse mesmo Japão surreal dos castelos.
A arte de Shintaro Kago é curiosamente elegante e grotesca, com traços finos e um apreço por cenas excêntricas. É preciso lembrar que o erotismo é também uma marca de seu trabalho, por isso há uma abundância de cenas de nudez e situações sexuais.
Publicado pela Pipoca & Nanquim, A Princesa do Castelo Sem Fim pode ser uma leitura incômoda para alguns, mas apesar da insanidade de algumas situações, tem uma dinâmica inventiva, capaz de cativar os leitores.