A Estrada

29 abril 2024

De Manu Larcenet (Adaptando livro de Cormac McCarthy)
180 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Fernando Paz

Um garoto e seu pai caminham pelas ruínas da civilização. Corpos em putrefação se amontoam nas ruas, nada brota do solo, a comida é escassa. Em A Estrada, Manu Larcenet traduz em imagens as descrições de Cormac McCarthy de um mundo que deixou de ser como o nosso. Nesta adaptação, o quadrinista francês nos transporta para a aridez da jornada dos protagonistas e ressalta a sensibilidade da relação dos dois.

O que sabemos é que pai e filho precisam seguir para o sul, em uma estrada que um dia foi estadual. Eles precisam fugir do frio e dos “homens ruins”, que se desumanizaram quando tudo ruiu. O perigo é constante e a apreensão deles é transmitida para o leitor a partir da quadrinização: o silêncio e as imagens de terra arrasada fazem a tensão pairar no ar.

A Estrada narra a luta pela sobrevivência do corpo, mas também daquilo que mora dentro dos protagonistas. Enquanto o pai, endurecido, enxerga tudo de maneira pragmática, o menino carrega a inocência própria da idade. É como se ele fosse um lampejo de esperança em meio a uma humanidade já perdida há tempos. Mas não é preciso esperar sentimentalismo aqui. Essa é uma obra que nos atravessa pela maneira direta, sem rodeios, como a trama se desenvolve. Os diálogos e interações entre pai e filho são breves e cortantes, não é necessário que muito seja dito.

Na arte, Larcenet torna a ambientação um elemento narrativo para mostrar o quão inóspito tudo se tornou. Através do contraste dos personagens, diante da dimensão do mundo destruído, podemos ver o quão desafiadora é a jornada. As cores, sempre sutis, contrastam com um cinza que parece dominar tudo, até na história.

A Estrada, recém-lançado pela Pipoca & Nanquim, pode ser perturbador em vários momentos. Essa não é uma história pós-apocalíptica como as outras, porque não se desenvolve apenas centrada nas ameaças, na natureza humana ou no ambiente hostil. É a construção da relação entre pai e filho que eleva a obra além do gênero.

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