De Camilo Solano
112 páginas
Conrad | 2024
Ágata ganha seu sustento passeando com cães… de carro. Essa é apenas a primeira das situações inusitadas que Camilo Solano insere em seu A Balada para Passear. O quadrinista extrai o humor do absurdo, mas também não deixa de pontuar críticas à vida exaustiva da cidade grande, enquanto desenvolve seu quadrinho.
Quando a jovem se vê em uma situação desesperadora, sequestrada por dois homens que podem até tentar, mas não são lá tão assustadores, o quadrinho toma ares de comédia pastelão. É possível dar risadas do caos e das coincidências que fazem tudo escalar insanamente, algo que já havíamos visto do autor em O Fio do Vento, mas que aqui soa menos elaborado, mais despretensioso.
É possível até dizer que essa é a HQ mais “underground” que lemos do autor, até então, embora seja publicada pela Conrad e passado por um processo editorial. É que tudo em A Balada para Passear soa mesmo despretensioso, às vezes até demais. Evidentemente, o leitor precisa abraçar a proposta e se deixar levar pelo humor nonsense que é a principal característica aqui.
No entanto, apesar da proposta e do tom do quadrinho, é inevitável um certo desconforto com as mudanças abruptas na arte. O autor, em seu posfácio, reforça que o desenho apressado é algo proposital, mas há páginas em que essa estética funciona muito bem, outras soam inacabadas. Há um exagero nas feições, sempre muito caricatas, perfeito para o tom de humor, mas é uma pena que o visual conscientemente trêmulo do início da obra oscile tanto ao longo do desenvolvimento.
É fácil passar um tempo ao lado de A Balada para Passear. O mergulho nos apuros de Ágata não é apenas engraçado, é possível mesmo extrair algo dali. A obra não é feita apenas de boas escolhas, na nossa opinião, mas é difícil não deixar um risinho de canto de rosto depois da página final.