Beliscão

30 janeiro 2023

De Camilo Solano
148 páginas
Pipoca & Nanquim | 2022

Enquanto somos levados a “um dia qualquer entre amanhã e o futuro”, Beliscão apresenta uma série de personagens e alusões ao nosso mundo e a universos distópicos. O quadrinho de Camilo Solano, lançado pela Pipoca & Nanquim, está entre a aventura e a crítica social, em um sci-fi que não esconde suas referências. Sejam elas a outras obras ou às marcas registradas do autor.

Plínio é um transgressor. Ele toca músicas antigas proibidas pelo System (uma ditadura que rege a vida de todos no país), em suas lives com pouquíssimos espectadores. Porém, sua desobediência é descoberta e ele precisa fugir de São Paulada se quer permanecer vivo, afinal, qualquer “cidadão de bem” tem o direito de matar um terrorista. É assim que o protagonista vai parar em uma cidadezinha do interior, escondido por um primo de terceiro grau, mas seu vício em doces pode pôr um fim à sua segurança.

A sinopse de Beliscão pode parecer caótica, porque, de fato, o caos rege as ações dos personagens. As inconsequências e o efeito dominó das situações são muito bem aplicados por Camilo, que consegue deixar sua proposta bem delineada. Ao longo da história, nos deparamos com críticas ao momento político brasileiro, ao culto às aparências e, claro, uma ode à música, que não é novidade nos trabalhos de Camilo. Esse é um fio que liga várias obras do artista, por mais diversas entre si que sejam.

Mesmo com essa segurança para brincar com o caos, a HQ parece se perder em suas próprias artimanhas, em seu terço final. São muitos elementos sendo trabalhados ao mesmo tempo e há a sensação de que o ápice da história é afetado por isso. Ainda assim, a conclusão é interessante e ainda traz um possível gancho para uma sequência.

Beliscão é uma HQ sci-fi autêntica, ao mesmo tempo que é cheia de elementos de outras histórias. O traço caricato e muitíssimo expressivo de Camilo Solano serve muito bem à proposta, enquanto o roteiro consegue imergir o leitor naquele universo marcado pelos jogos de palavras e situações absurdamente familiares.

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