De Jean Dufaux, Paolo Serpieri e Riccardo Federici
192 páginas
Comix Zone | 2023
Tradução: Fernando Paz
Saria, acima de tudo, é uma boa história. A trajetória da HQ, até o desfecho, é repleta de ousadia, sem jamais tornar a experiência previsível para o leitor. Pelo contrário, a obra com roteiro de Jean Dufaux e desenhos de Paolo Serpieri e Riccardo Federici é uma fantasia convincente, com um belo visual, em que o leitor em momento algum sabe como a história terminará.
Em uma Veneza distópica atolada pelas lutas de poder, Saria acaba de herdar de seu pai três chaves que podem a conduzir ao poder supremo. Esse tesouro dá acesso a três reinos: Paraíso, Inferno e Nada. Só que ele também é muito desejado pelo seu tio Doge, que tenta ampliar o seu poder em Veneza, e o anjo Galadriel, de quem seu pai conseguiu esconder as chaves por anos. Agora, ela precisa ficar escondida, assumir uma nova identidade, e amadurecer o mais rápido possível para enfrentar o seu destino, sem saber o que a aguarda.
Dividida em três atos, que anteriormente foram publicados em volumes separados, o roteiro demonstra foco na narrativa, mesmo quando mergulha em subtramas de personagens tangentes. Saria ainda explora os regimes ditatoriais e a influência da Igreja, resultando em uma HQ divertida o bastante para equilibrar sua aventura com temas mais pungentes. Porém, o terceiro ato peca por ter um desenvolvimento mais apressado e frio do que o ideal.
Visualmente ambicioso, Saria tem dois grandes desenhistas à frente do quadrinho. Serpieri, na primeira parte, e Federici, nas duas seguintes. Ambos, cada um da sua forma, criam um belo universo futurista, que mistura elementos medievais e renascentistas. Sem dúvidas, os desenhos impressionam, principalmente, o estilo realista de Federici, que mesmo com um traço mais próximo do real e tantos enquadramentos cinematográficos, nunca parece duro.
Publicado pela Comix Zone, Saria proporciona uma experiência extremamente positiva e, mesmo quando impõe um ritmo que interfere na imersão da leitura, seu universo ainda se mantém fascinante até o fim.