De Ed Brubaker e Sean Phillips
112 páginas
Mino | 2023
Tradução: Dandara Palankof
O Último dos Inocentes é o volume mais “afastado” da antologia Criminal. Apesar de todos os elementos do universo da série estarem aqui, é neste sexto volume que Ed Brubaker e Sean Phillips dão um passo à frente e oferecem a história mais ambiciosa. Um volume em que, depois de tudo, os autores conseguem nos surpreender dentro da própria franquia, se reinventando.
Na história, Riley Richards viaja à sua cidade natal para visitar seu pai, que acaba de descobrir que tem câncer. Enriquecido graças ao casamento com sua rica e bela esposa, Riley se vê esgotado e infeliz. Todos esses sentimentos vêm à tona quando ele encontra seus amigos de infância e relembra da juventude que abandonou. Temos então um protagonista arrependido de suas escolhas, da vida que não viveu e, principalmente, disposto a sacrificar tudo para recomeçar. Um recomeço que, em hipótese alguma, considera a perda do seu atual patrimônio.
A narrativa, os diálogos, a construção dos personagens, tudo é muito bem escrito, mais uma vez. Porém, gostaríamos de chamar atenção para a forma como Brubaker brinca com o leitor, ao desenvolver a dualidade do personagem principal. Logo no início, despertamos certa simpatia pelo protagonista. Vemos Riley como um coitado, como uma vítima de seus vícios, traído pela esposa e cheio de arrependimentos. Mas, pouco a pouco, o roteirista prega uma peça e nos dá uma inversão de perspectiva, quando o protagonista se mostra disposto a cometer crimes, trair amizades e memórias. A, de fato, perder sua inocência.
As ilustrações seguem com tom realista e sombrio, convincente com o cenário decadente da trama. Além de seu estilo habitual, neste livro, Phillips muda seu traço nos flashbacks, parodiando Archie. Uma paródia que não se limita à arte, o roteiro também pode ser uma versão adulta das histórias românticas que figuravam nas revistas de Archie.
Criminal: O Último dos Inocentes foge do lugar comum, dentro de uma série já muito bem estabelecida, em que seria fácil reproduzir apenas uma fórmula. O sexto volume é mais do que uma boa HQ de Criminal, é o auge da série até aqui, em uma obra intensa, que nos instiga do princípio ao fim.