De Janaína de Luna e Pedro Cobiaco
112 páginas
Mino | 2022
Haya e o Tempo tem tom de poesia e é carregado de metáforas muito delicadas sobre o fluxo da vida e, claro, o tempo. Enquanto abraça esse aspecto simbólico, o novo quadrinho de Janaína de Luna e Pedro Cobiaco também é uma aventura gostosa de acompanhar, protagonizada por duas indígenas às quais uma importante missão é confiada. A cada cem anos, uma criatura se ergue, carregando o tempo em suas costas de uma ponta a outra da Floresta Amazônica. Para que sua travessia seja segura, um povo de guerreiras elege duas mulheres para protegê-la. É assim que, em um ritual, a aldeia é informada de que a inexperiente Haya e a anciã Kurema deveriam acompanhar a criatura.
A jornada de Haya e Kurema é guiada por um visual deslumbrante em que a floresta desabrocha em muitas formas, cores e texturas. Ela é mesmo um organismo vivo. Simultaneamente, observamos as interações entre as protagonistas, a relação que as duas constroem com a criatura e como a história é sobre essa travessia, mas também apresenta um caráter universal. Afinal, o tempo nos atravessa, ele está em tudo.
Mesmo que ancorada principalmente em seus aspectos fantásticos, Haya e o Tempo não deixa de lado uma face ecológica. Janaína e Cobiaco não usam a floresta apenas como cenário, mas exploram os riscos que a Amazônia e os povos originários enfrentam. Ao fazer isso, a trama se torna atualíssima e uma boa pedida para as salas de aula.
A arte de Cobiaco é capaz de transmitir tensão ou calmaria, por meio de um ótimo uso dos quadros, das cores e da composição visual. Há muito movimento e sensibilidade para transformar as metáforas do texto também em metáforas visuais.
Publicado pela Mino, Haya e o Tempo é acessível, ao passo que dialoga com um público amplo. É poética sem ser pretensiosa. Fantástica, sem deixar de lado a realidade que nos assombra. Uma experiência de leitura deliciosa que casa completamente texto e arte.