Os Fantasmas de Pinochet

11 outubro 2022

De Félix Verga e Francisco Ortega
136 páginas
Conrad | 2022
Tradução: Delfin

É, no mínimo, curioso que Augusto Pinochet tenha morrido no Dia Internacional dos Direitos Humanos. O comandante da sangrenta ditadura chilena é também o protagonista do quadrinho que se dedica a imaginar um julgamento post-mortem, para aquele que acabou sendo inimputável em vida. Lançado no Brasil pela Conrad, Os Fantasmas de Pinochet, de Félix Verga e Francisco Ortega repassa, a partir de uma trama ficcional, diversos momentos da vida do ditador, por meio de uma bibliografia rica em referências.

Já idoso, na Inglaterra, Augusto Pinochet começa a ser assombrado por fantasmas, símbolos que marcaram a sua vida. Essas figuras, que insistem em não deixá-lo em paz, o lembram de sua trajetória, em diálogos que nos levam desde a infância do general a decisões de governo e questões pessoais, como seu casamento. O enredo parece muito documental, em diversos momentos, mas sempre nos lembra de seu caráter ficcional, quando flerta com elementos sobrenaturais.

 

Ascendente, a trama chega em seu ápice quando o juízo-final de Pinochet começa de fato. O roteiro de Ortega deixa claro para o leitor que não estamos diante de um homem arrependido. É neste momento que tanto arte quanto texto abraçam completamente o sobrenatural, em cenas que chocam e que escancaram as mazelas da ditadura chilena. Ao menos no outro plano, Pinochet não foi poupado.

Os desenhos de Vega podem parecer estáticos, principalmente no início da leitura. Depois nos habituamos ao estilo realista do traço e das cores, que é bastante eficiente para retratar os fatos ali apresentados.

O maior êxito de Vega e Ortega em Os Fantasmas de Pinochet é a forma como trabalham o dever de memória. A ânsia por justiça entra como um fator permanente, ao longo de toda a história, e guia até mesmo a reconstrução dos fatos (e das teorias). O sobrenatural se torna mais próximo do que nunca do real, quando os fantasmas são as milhares de vítimas de Pinochet. Sem dúvidas, essa é uma obra que soa como um desabafo da dupla chilena.

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