Pinturas de Guerra

23 junho 2021

De Ángel de la Calle
312 páginas
Veneta | 2021
Tradução: Andrea Bruno

Lançamento da editora Veneta, Pinturas de Guerra, de Ángel de la Calle, nos transporta para Paris, no início dos anos 80, onde estão exilados diversos artistas de países latino-americanos. Uma história que trata do imenso poder da arte, mas também sobre as marcas profundas das ditaduras nos países do Cone Sul.

O protagonista desta obra é o próprio Ángel de la Calle, que se insere na história como um recurso narrativo, um alter-ego. Embora tenha vários personagens reais (pintores, artistas, políticos…), as situações de Pinturas de Guerra são ficcionais, fruto de uma pesquisa intensa do autor.

Ángel, que é espanhol, chega a Paris para pesquisar sobre a morte misteriosa da atriz norte-americana Jean Seberg. Seu desejo é escrever um livro sobre essa personalidade que o fascina. Na capital francesa ele se torna vizinho e amigo de artistas do Chile, Argentina, México e Uruguai, que carregam consigo histórias nefastas sobre seus países. As ditaduras latino-americanas, apoiadas pelos EUA, são abordadas de uma maneira realista e intensa nesta obra, sem parecer expositiva. A arte de Ángel de la Calle é competente e expressiva. Há cenas bastante gráficas, escancarando o horror das torturas.

O embate entre a arte e o fascismo, o conservadorismo, é constante na obra. O quadrinista nos faz pensar sobre o poder de contar histórias, que, como a própria HQ aponta, “servem para restaurar a identidade, para dizer quem somos e quem fomos”. Pinturas de Guerra é um quadrinho preciso, uma trama necessária para a nossa memória enquanto latino-americanos.

Devemos apontar que esta não é uma leitura fácil. Denso, envolvente e intenso, o quadrinho possui referências em praticamente todas as páginas e exige bastante atenção do leitor (a edição também conta com um glossário, belo trabalho da Veneta). Esses detalhes fazem toda a diferença na construção do fio narrativo da HQ. Pinturas de Guerra é uma experiência de leitura que mescla história, arte e centenas de referências em uma trama que poderia muito bem ter existido, afinal, está completamente calcada na realidade daqueles que passaram pelos porões das ditaduras.

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