Busca por HQs com temática da 2ª Guerra Mundial sobe, em meio à ascensão da extrema-direita na França
26 março 2025
Por Fora do Plástico
Imagem: Librairie Flagey
Quadrinhos ambientados na Segunda Guerra Mundial não são uma novidade no cenário franco-belga. A cada ano novas obras são lançadas sobre esse tema inesgotável, entre elas o último vencedor do Grand Prix de La Critique ACBD e do Fauve d’Or em Angoulême, “Deux filles nues”, de Luz, anunciado recentemente pela Conrad.
A busca nas livrarias francesas corresponde, como apontou uma reportagem do portal BFM.TV. “Nenhum outro tema funciona tão bem na loja. Não faria sentido termos seções de ficção científica, filosofia ou fantasia heroica. Mas se removêssemos nossa seção da Segunda Guerra Mundial, parte da loja ficaria vazia de leitores”, explica o livreiro Alex, da loja especializada em quadrinhos Aaapoum Bapoum em Paris.
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Outro sucesso recente das HQs francesas sobre a Segunda Guerra Mundial é a série “Madeleine, Resistente”, de Dominique Bertail e Jean-David Morvan, cujo primeiro volume foi publicado pela Nemo. A série acaba de ultrapassar 150 mil álbuns vendidos na França, não tão distante de “Deux filles nues”, com 100 mil cópias.
Mesmo que o tema sempre tenha sido frequente na literatura, audiovisual e nos quadrinhos, o aumento de interesse recente do público sobre o período pode estar relacionado ao momento atual. “Ao contrário do conto ocidental ou medieval, as histórias sobre a Segunda Guerra Mundial podem nos informar mais sobre o nosso tempo. Todo mundo tem potencial para cair no fascismo“, reflete o quadrinista Denis Rodier, desenhista de “A Bomba”, em entrevista ao BFM.TV.
O cenário político atual na França é marcado por uma ascensão significativa da extrema-direita, com o desempenho expressivo do partido Rassemblement National (RN), que abriga políticos como Marine Le Pen. A situação não é diferente em outros países da Europa, como a Alemanha, que viu nas eleições federais de fevereiro de 2025, a Alternativa para a Alemanha (AfD) obter 20,8% dos votos, tornando-se o segundo partido mais votado, e a Itália sob a liderança de Giorgia Meloni, líder do partido nacionalista Fratelli d’Italia.
Outro ponto que explica o interesse renovado pela Segunda Guerra é o fato de as histórias contadas hoje não serem necessariamente as mesmas de décadas atrás. “Nossa compreensão dessa história foi feita em camadas. Tendemos a abordar essa história através das lentes do Holocausto ou de Auschwitz, quando tudo vai muito além. Por exemplo, não foi até a década de 1990 que começamos a falar sobre o genocídio de ciganos e homossexuais. Esse período pode parecer infinito e inesgotável”, ressalta o quadrinista Ivan Gros, autor da HQ “Kinderzimmer”, inédita no Brasil.
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