O Fora do Roteiro é uma coluna de PJ Brandão, do HQ Sem Roteiro, no Fora do Plástico. Esse conteúdo tem também uma versão em vídeo, que recomendamos muito que você assista AQUI.
Quem leu os quadrinhos do Sandman e assistiu a série da Netflix, deve ter notado algo bem familiar nos créditos finais dos episódios.
Em um dos painéis sobre a série na Comic Con desse ano de 2022, Neil Gaiman revelou que chamou Dave McKean, o capista original dos quadrinhos, para fazer o design dos créditos finais dos 10 episódios da série de TV.
Isso me fez pensar sobre o papel das capas e dos créditos finais em uma narrativa.
Em seu livro Palimpsestos: Literatura de Segunda Mão, o teórico francês Gerard Genette explora as relações entre diferentes textos. Genette dá o nome de paratexto para os textos que estão na periferia do texto principal.
Exemplo: existe a história de Sandman. Os arcos, os personagens, etc. Tudo roteirizado por Neil Gaiman e desenhado por vários artistas. Esse é o texto principal. Ao redor disso vêm todos os textos que juntos compõem a publicação. Capas, textos auxiliares, prefácio, posfácio, textos na orelha do livro, etc. Esses são os paratextos.
Em entrevista ao amigo Ramon Vitral, do site Vitralizado, Dave McKean falou sobre o seu processo criativo. Ao ser perguntado sobre a importância da criação de capas para HQs, livros ou discos, McKean respondeu:
“Elas (as capas) são semelhantes por serem todas janelas para o conteúdo da obra, o primeiro ponto de conexão entre um consumidor potencial e o conteúdo. Elas servem como filtros pelos quais ouvimos as músicas ou começamos a ler um livro.”
Isso me fez lembrar da minha capa favorita do Sandman, a primeiríssima, que abre a série e o arco Prelúdios e Noturnos. Eu já achava ela linda, mas achei ainda mais quando descobri que no fim das contas ela era a foto de uma composição feita por McKean.
No fim das contas, o cara que construiu nosso primeiro contato com Sandman, a capa da primeira edição, é quem faz os créditos finais dos episódios da série de TV. Um ciclo perfeito, como todas as boas histórias costumam ter.