Tragédia de Mariana: HQ da Nemo traz relato de morador de cidade atingida

26 agosto 2025


O que acontece quando a fonte de água de uma cidade de 280 mil habitantes é contaminada? “Doce Amargo: Um relato em quadrinhos do maior desastre ambiental do Brasil”, de João Marcos Mendonça, conta como o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, afetou a cidade de Governador Valadares, uma das 49 cidades atingidas, onde o autor e sua família residem.

O Rio Doce era a única fonte de abastecimento de água do município. Quando as torneiras secaram, a maior cidade do leste mineiro ficou à beira do colapso. João Marcos Mendonça viveu essa realidade com sua família e transformou o primeiro ano após o desastre em um relato pessoal em quadrinhos. Medo, caos, angústia e incerteza se misturam às promessas não cumpridas, e também aos pequenos acontecimentos do dia a dia, que ganham outro peso no cenário da maior tragédia ambiental brasileira.

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“Depois do rompimento da barragem e as suas primeiras consequências, teve um momento em que comecei a me dar conta da dimensão da tragédia que estávamos vivendo“, conta o quadrinista ao Fora do Plástico. “Então, comecei a fazer uma espécie de diário, já pensando no formato de uma HQ, como se fosse a primeira versão do roteiro”.

A ideia inicial era que “Doce Amargo” fosse publicado quando a tragédia completou 5 anos, mas João Marcos não conseguiu finalizar o roteiro a tempo, em função de suas atividades profissionais na época. “Depois que a data passou, fui trabalhando aos poucos na história, fazendo novas versões do roteiro e escrevendo os novos capítulos. Um desafio foi selecionar os fatos que considerava mais importantes, que ajudassem a dar um pouco da dimensão da tragédia. Apesar de ter feito o recorte do primeiro ano pós rompimento, muita coisa aconteceu nesse curto período”, explica.


Até que, em 2024, o projeto finalmente começou a se concretizar. “No ano passado, em função da proximidade do décimo ano do rompimento, considerei que a data seria uma oportunidade para contar essa história e relembrar a tragédia, até porque ela deixou sequelas que duram até hoje”, relembra o artista. “Foi quando encontrei o Arnaud Vin, editor da Nemo, no FIQ e contei sobre o projeto. Ele se interessou e eu pedi um prazo para terminar o roteiro e fazer alguns ajustes. Pra minha alegria, ele gostou e aprovaram a produção das páginas”. Depois disso, vieram 7 intensos meses, o que incluía finais de semana e feriados.

A HQ está em pré-venda e vai ser lançada pela editora Nemo em setembro, pouco tempo antes de o rompimento da Barragem de Fundão completar uma década, em novembro. A edição em brochura tem formato 18 x 24cm, 184 páginas, e cores de Mariane Gusmão, colorista de “Gioconda” e “O Menino Rei”.

João Marcos Mendonça é autor de mais de 15 livros em quadrinhos para crianças, publicados por diversas editoras. Em 2024, foi artista convidado do Batman Day, da DC Comics, em comemoração aos 85 anos do Homem Morcego. Atua também como ilustrador e pesquisador sobre o uso das histórias em quadrinhos na educação, trabalho que lhe rendeu o Troféu HQMix e originou publicações teóricas na área. Atua desde 2009 como roteirista da Mauricio de Sousa Produções.

Distrito de Bento Rodrigues, zona rural de Mariana (MG), em novembro de 2015 | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

10 anos da tragédia 

Na tarde de 5 de novembro de 2015, uma quinta-feira, a barragem de Fundão da mineradora Samarco, joint-venture da Vale e da anglo-australiana BHP, localizada no subdistrito de Bento Rodrigues em Mariana, rompeu. Dezenove pessoas morreram, uma delas estava grávida. Além de Bento, que ficou completamente devastado, o distrito de Paracatu de Baixo também foi atingido e mais de 55 milhões de metros cúbicos de rejeito de minérios foram liberados no Rio Doce.

O rejeito, equivalente a 21 mil piscinas olímpicas, percorreu o Rio Gualaxo do Norte, depois o Rio do Carmo e, por fim, chegou ao Rio Doce, desaguando no litoral do Espírito Santo, na cidade de Regência. No total 49 municípios foram atingidos, segundo os dados da repactuação, 39 estão no estado de Minas Gerais e 10 no Espírito Santo.


Durante mais de oito anos o processo de reparação dos atingidos ficou na mão da Fundação Renova, entidade criada pelas mineradoras a partir de acordo com as entidades públicas. Porém, no ano passado, o Governo Federal, dos estados e de parte dos municípios atingidos, fizeram um novo acordo com as mineradoras no valor de R$ 170 bilhões, destes R$ 38 bilhões já foram gastos pela fundação. O restante será usado pelos governos no processo de reparação.

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