De Daniel Esteves, Sueli Mendes, Pedro Okuyama e Wanderson de Souza
120 páginas
Zapata Edições | 2019
Sobre o Tempo Em Que Estive Morta nos convidou para a leitura logo no título. A HQ, que tem roteiro de Daniel Esteves e arte assinada por Sueli Mendes, Pedro Okuyama e Wanderson de Souza, envolve o leitor em uma trama misteriosa. A protagonista Cris, uma escritora de sucesso, volta, após 15 anos, à cidadezinha onde cresceu. O motivo do retorno é quebrar um bloqueio criativo que há dois anos a impede de concluir Maku, sua série de livros. Só que, ao chegar à ilha, a autora precisa lidar com uma situação completamente inesperada: ninguém mais a reconhece ou acredita que ela seja quem de fato é.
O quadrinho nos insere, logo nas primeiras páginas, no dilema da protagonista. O roteiro de Esteves é ágil e consegue nos envolver e nos fazer criar empatia pela escritora. Além disso, Esteves imerge o leitor em um universo particular bem interessante, a cidade natal de Cris é uma ilha e isso é essencial para o funcionamento da trama. No entanto, apesar do bom começo, a segunda metade da trama se torna confusa e apressada. Temos muitos personagens, muita coisa acontecendo e uma série de situações abertas à interpretação.
Além de ser protagonizado por uma mulher negra, a HQ aborda temáticas como homofobia e fanatismo religioso, que são inseridas de forma bastante orgânica na trama. É notável que não é o intuito de Esteves focar apenas nessas questões, mas elas são importantes para o desenvolvimento do roteiro. Destaque também para a arte de Sueli Mendes, que assina mais da metade do quadrinho, com um traço marcante e fluido.
Sobre o Tempo Em Que Estive Morta é uma HQ sobre metalinguagem e recomeços e possui, para além da superfície da trama, um sentido poético bem rico. Apesar de não ser concluída com o mesmo fôlego que apresentava no começo, a história é mais um bom exemplo de como Daniel Esteves consegue mesclar crítica social ao lado de um roteiro ousado.