De Jean-Pierre Gibrat
160 páginas
Nemo | 2024
Tradução: Bruno Ferreira Castro e Fernando Scheibe
O primeiro volume de Mattéo já sinaliza o porquê de esta ser considerada a obra mais aclamada de Jean-Pierre Gibrat. O artista francês consegue nos transportar para o início do século XX, através da vida de Mattéo Cortés, um homem comum, mas também uma testemunha da História, a começar pela Primeira Guerra Mundial. Porém, Gibrat não torna sua trama refém dos eventos históricos, tudo é muito bem costurado.
O quadrinista francês cria personagens carismáticos, controversos, cheios de personalidade. Em um comparativo inevitável, é possível encontrar em Mattéo mais profundidade e desenvolvimento do que nos trabalhos anteriores de Gibrat lançados por aqui, Destino Adiado e O Voo do Corvo. Afinal, estamos falando de uma saga, há mais espaço para se aprofundar, mas esse também o resultado de escolhas que vão além do romance tradicional.
Mattéo nos é apresentado como um jovem de convicções firmes, filho de um anarquista espanhol. Quando embarca em um trem rumo às trincheiras, ele deixa para trás, na França, uma mãe preocupada e a amada Juliette. A ida para a guerra soa como uma prova de honra e amor à namorada, mas ele descobrirá uma realidade implacável em que a bravura é rapidamente substituída pelo pânico da morte.
A edição da editora Nemo reúne o chamado Primeiro Ciclo de Mattéo, que percorre os anos de 1914 a 1919 e compila dois volumes da publicação original francesa. No segundo tomo, o protagonista se vê rumo a São Petersburgo, ao lado do amigo anarquista Gervásio, durante a Revolução Russa. Lá ele conhece Léa, uma bolchevique que se torna um dos personagens mais fascinantes e complexos da HQ.
A arte de Gibrat é sempre encantadora, apesar dos rostos femininos sempre muito parecidos, algo que o próprio autor admite. O realismo do traço colabora na ambientação e na imersão na trama e há pinceladas de sensualidade, como em outros de seus trabalhos.
Mattéo traz vários dos elementos que tornam uma história cativante. O grande diferencial de uma saga é nos importarmos com os personagens e é exatamente isso que Gibrat proporciona aqui. Ao final do primeiro ciclo, mal podemos esperar pelo próximo.