“Só com a gente”: Helô D’Angelo revive viagem com a irmã em nova HQ

2 maio 2024
Por Fora do Plástico

Duas irmãs e uma viagem pelo Atacama registrada em quadrinhos. “Só com a gente”, o novo quadrinho de Helô D’Angelo, é também uma das primeiras produções da autora de “Isolamento”, “Nos Olhos de Quem Vê” e coautora de “Boy Dodói”. O diário de viagem, produzido ao longo da visita ao deserto chileno, começou a ser feito em 2019 e precisou passar alguns anos na gaveta da artista, até ser contemplado no fim de 2023 pelo Prêmio Carolina Maria de Jesus. A única HQ da premiação destinada a mulheres escritoras. Já em pré-venda no site da editora Bebel Books, o quadrinho será lançado durante o FIQ BH, no fim de maio. Além de ser publicado nas redes sociais de Helô, semanalmente, de forma episódica.


“Só Com a Gente” retrata a primeira viagem que as irmãs Helô e Frá fizeram juntas, totalmente independente dos pais. O diário de viagem reúne as belas paisagens do Atacama e desventuras como guias de viagem insanos, sabores inesperados e até gringos terraplanistas, além de enfrentar o medo recorrente de se perder no deserto, tudo isso intercalado a memórias de infância das irmãs.


Papo com a autora

Confira a entrevista ao Fora do Plástico, em que Helô D’Angelo revela mais detalhes da produção de “Só Com a Gente”.

Fora do Plástico: Você comentou em um vídeo que esse quadrinho foi feito ao longo da viagem para o Atacama com sua irmã. Quais são os desafios de produzir assim, de um jeito meio “nômade”?

Helô D’Angelo: Muitos desafios! O primeiro e mais difícil foi aceitar que não ia sair perfeito, e incorporar “erros” e imperfeições como parte da jornada. Afinal, diários de viagem refletem a realidade de uma viagem: cheia de altos e baixos, perrengues, momentos em que tudo dá errado, e também momentos de beleza e alegria. Então muitas vezes meu desenho no livro traz inconsistências, manchas, traços tremidos, soluções de representação rápidas, tudo para conseguir terminar o registro “ao vivo”. Também foi desafiador usar aquarela nesse processo, e usar de uma forma rápida. Aprendi muito sobre minha arte e sobre aquarela!

Fora do Plástico: De que forma você acredita que “Só com a gente” se conecta com os seus trabalhos anteriores e os que vieram depois da produção original dessa HQ?

Helô D’Angelo: “Só com a gente” foi produzido em 2019 (na verdade, ao mesmo tempo em que eu divulgava a campanha de Catarse do meu primeiro livro, “Dora e a gata”!). Ele seria, então, meu segundo livro – mas quando consegui focar nele, já era 2020 e tínhamos entrado na pandemia. Achei que uma HQ de viagem não tinha muito lugar enquanto todos estávamos presos em casa, então acabei guardando na gaveta. Nesse sentido, o traço desta HQ é bem similar ao de “Dora e a gata” e às minhas primeiras tirinhas, quando eu trabalhava exclusivamente com aquarela e tinha um traço mais solto (o pessoal brinca que é da “Helô do Velho Testamento”, rs). Mas este trabalho também tem forte conexão com meus livros que vieram depois: foi minha primeira tentativa de HQ autobiográfica, um gênero que eu abraçaria com força depois, com “Nos olhos de quem vê” e “Pequeno manual de defesa pessoal”; aborda diversos temas que até hoje trabalho, como amadurecimento, empatia, reflexões sobre o cotidiano, história, decolonialismo etc. Então, é um livro que conecta essas duas “Helôs” – a do Velho Testamento e a do Novo, rs.

Foto: Maria Ribeiro

Fora do Plástico: Como foi a decisão de parar a produção do livro, no momento da pandemia? E como foi a “virada de chave” para a produção de “Isolamento”?

Helô D’Angelo: Foi bem frustrante. Eu estava com muita energia para engatar nesse projeto depois do sucesso de “Dora e a gata”, e no início da pandemia até comecei a preparar os arquivos; montei um esqueleto do livro, até uma primeira versão da capa eu fiz… Mas não consegui continuar. Foi importante olhar ao redor e entender que aquele não era o tipo de história que as pessoas queriam ouvir, naquele momento. Estávamos muito em carne viva, e era preciso falar sobre o que estava acontecendo, e o que estava acontecendo doía muito. Fiquei um tempinho paralisada, sem saber o que fazer, acho que todo mundo passou por um momento assim na pandemia. E aí, eu comecei a fazer as tirinhas de “Isolamento”, primeiro como um desabafo, depois com mais atenção aos personagens e suas histórias – e virou uma saga. Acredito que “Isolamento” não teria existido se eu não tivesse passado por “Só com a gente”.

Fora do Plástico: Essa HQ foi contemplada com o Prêmio Carolina Maria de Jesus, o que possibilitou sua publicação, certo? Quando você fez a inscrição já havia o desejo de colocar esse material de volta no mundo?

Helô D’Angelo: Sim, com certeza! Confesso que inscrevi o livro sem muita fé de que ele seria selecionado, afinal era um prêmio que não tinha uma “cota” para quadrinhos, e colocava tudo no mesmo balaio de “literatura”. Eu pensava que as juradas do prêmio não se interessariam por uma história de viagem autobiográfica, mas mandei mesmo assim, e o resultado foi surpreendente, fiquei muito feliz justamente de perceber que o livro finalmente nasceria. Acho que é uma obra pessoal, mas ao mesmo tempo universal, como costumam ser as histórias atravessadas por emoções, laços de irmandade e experiências de amadurecimento. Então, fiquei muito grata. Também foi agridoce ter sido a única cartunista escolhida no prêmio: fiquei feliz pelo reconhecimento do meu trabalho, mas espero que o MinC repense o critério de a obra precisar estar pronta para concorrer; eu tive sorte de ter este livro na gaveta, na hora certa, e de certa forma isso é um privilégio.

 


“Helonews”

Além de “Só com a gente”, Helô tem outra novidade saindo do forno, a newsletter “Helonews”. Enviada de forma gratuita aos emails cadastrados, a newsletter é uma maneira de tentar driblar “os algoritmos malucos das redes sociais”, conta a quadrinista. Além de quadrinhos, o conteúdo será composto por tudo o que a artista publica nas redes sociais, notícias, agenda e clipping de imprensa. Para se inscrever, basta clicar aqui.

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